Pois bem, em minha pequena cruzada iniciada em busca de histórias do funcionalismo público T, resolvi buscar os meus colegas da área de regulação num de nossos grupos no Facebook para uma abordagem, quem sabe alguém conheça alguém, eu não devo ser a única funcionária pública nessa situação. E então fiz o pedido, gentilmente. Eis o que recebo como resposta:
Desculpem o palavreado, mas é "de cair o cu da bunda", não é? Não contente, o energúmeno ainda me posta isso no grupo, numa indireta bem direta:
Fiz rasuras nos prints pois sou educada e não é do interesse de ninguém expôr pessoas ao ridículo.
Agora vamos pensar um pouco: o que pensar quando se vê pessoas que, à primeira vista, por serem detentoras de um cargo público conseguido arduamente por meio de um concurso que vem ficando cada vez mais difícil e seletivo, deveriam ser um pouco mais esclarecidas e tolerantes, agirem como verdadeiros ogros e badalhocas?
Mais à frente contarei o que tive de fazer para conseguir o mínimo de respeito institucional. Mas por ora, dedico a este cidadão, que por uma triste coincidência trabalha no mesmo órgão que eu, esta bela música.
Vídeo da noite: Vanessa da Mata - Baú
Quem sabe se sensibiliza? Quem sabe se transformará?
Vamos seguindo acordando cedo! Você só reclama e não age!
Você fica dormindo à tarde, e tudo vai dando nos nervos!
Não corre atrás das suas coisas! Vive aqui choramingando!
Todos já foram embora! Você só sabe reclamar!
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Apoios: conhecendo histórias do funcionalismo
Pessoal, estou buscando história de pessoas transgêner@s que sejam SERVIDORES PÚBLICOS, de qualquer poder ou esfera, para compartilhar histórias e canalizar estratégias para propor políticas públicas para o segmento T no funcionalismo, uma vez que este tipo de discussão é praticamente inexistente, tanto nas políticas já existentes na SDH que ainda focam principalmente o público lésbico e gay e as travestis e transexuais em situação vulnerável, quanto no meio sindical, onde, salvo raríssimas exceções, isso nem entra na mesa de debate.
Ninguém tem voz sozinho, portanto, se juntarmos nossas histórias e backgrounds, podemos começar a reivindicar um respeito que ainda tem que ser conseguido na marra. Caso tenha interesse, contatos podem ser feitos para o meu e-mail de.manassi@hotmail.com ou perfil no Facebook (facebook.com/de.manassi, mandem inbox antes que eu leio).
Obs.: mensagens de cunho transfóbico e ofensivo serão desconsideradas e denunciadas!
Ninguém tem voz sozinho, portanto, se juntarmos nossas histórias e backgrounds, podemos começar a reivindicar um respeito que ainda tem que ser conseguido na marra. Caso tenha interesse, contatos podem ser feitos para o meu e-mail de.manassi@hotmail.com ou perfil no Facebook (facebook.com/de.manassi, mandem inbox antes que eu leio).
Obs.: mensagens de cunho transfóbico e ofensivo serão desconsideradas e denunciadas!
sábado, 28 de dezembro de 2013
Mais uma dica de ouro
A pessoa que domina a língua é aquela que entende que nem sempre metralhar um monte de informações em determinado padrão de linguagem é adequado para todas as situações. Entenda o público com o qual se vai falar!
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
A espera
Espero ansiosamente uma única coisa.
Que um único número ligue.
O telefonema que vai mudar tudo.
Melhor, o telefonema vai fazer a vida seguir seu curso natural.
Um convite à burocracia.
Burocracia nunca antes tão desejada.
Para que outro me autorize.
A aquilo para que já me autorizei.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Por que 2013 foi um ano bom?
Na onda do final de ano, hora de vir, fazer um balanço do que aconteceu, e chegar a conclusão de que 2013 foi muito bom para mim.
Primeiro, porque os anos ímpares geralmente me são melhores. Foi em 2005 que comecei a me aceitar diferente. Em 2007 entrei na universidade, que mesmo não concluída, me trouxe inúmeras experiências e contatos que até hoje perduram. Em 2009 fui admitida no serviço público, e desde lá tento minimamente fazer jus a essa conquista.
E em 2013, consegui fazer muitas coisas. Conseguir superar aquela que considero a pior crise pessoal que tive até hoje e sair do profundo buraco em que estava em 2012. Consegui me respeitar e me fazer respeitada. Mostrei àqueles que queriam meu mal que sou mais forte. Fiz com que meus direitos inatos não fossem tolhidos por mera arbitrariedade.
Ainda não pensei nas minhas metas para 2014. Mas elas serão tão realistas quanto as que planejei para 2013, e farei de tudo para que se concretizem.
Vídeo da noite: Ana Torroja - Un año más
E no relógio antigo como todo ano
Cinco minutos mais para a contagem regressiva
Fazemos um balanço do bom e do mal
Cinco minutos antes da contagem regressiva
Primeiro, porque os anos ímpares geralmente me são melhores. Foi em 2005 que comecei a me aceitar diferente. Em 2007 entrei na universidade, que mesmo não concluída, me trouxe inúmeras experiências e contatos que até hoje perduram. Em 2009 fui admitida no serviço público, e desde lá tento minimamente fazer jus a essa conquista.
E em 2013, consegui fazer muitas coisas. Conseguir superar aquela que considero a pior crise pessoal que tive até hoje e sair do profundo buraco em que estava em 2012. Consegui me respeitar e me fazer respeitada. Mostrei àqueles que queriam meu mal que sou mais forte. Fiz com que meus direitos inatos não fossem tolhidos por mera arbitrariedade.
Ainda não pensei nas minhas metas para 2014. Mas elas serão tão realistas quanto as que planejei para 2013, e farei de tudo para que se concretizem.
Vídeo da noite: Ana Torroja - Un año más
E no relógio antigo como todo ano
Cinco minutos mais para a contagem regressiva
Fazemos um balanço do bom e do mal
Cinco minutos antes da contagem regressiva
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
A pessoa trans e a educação
Até alguns anos atrás, era descabido, quase herético, pensar em travestis estudando. Afinal, na nossa sociedade do "multiculturalismo de faz-de-conta" não há espaço para travesti a não ser na rua, na marginalidade, na cafetinagem. Escola? Nunca! Crescimento profissional e intelectual? Tampouco! Eis que aparece Luma Andrade, recém-doutorada pela Universidade Federal do Ceará e agora professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), e desvirtua todo esse pensamento.
A pergunta que fica: é algo possível? A resposta é sim. É algo fácil? Infelizmente não.
Nem todas conseguem suportar a pressão psicológica terrível que se abate contra quem ousa quebrar paradigmas; pressão da escola, que não sabe como lidar com a situação, pois não foi capacitada (está aí um aviso para salvar os nossos cursos de pedagogia à beira do penhasco), da família (que rejeita o não-ortonormativo porque ou o padre/pastor/rabino/fdpqueseja disse que é coisa do diabo, ou porque tem medo de ficar em desvantagem nos seus complexos jogos de vaidades inter/intrafamiliares, ou porque simplesmente não consegue entender o diferente) e do Estado (que descaracteriza as identidades não-"normais", não as reconhecendo, colocando-as como patológicas ou mesmo criminosas).
As que conseguem sabem o quão dura foi a luta para conseguir algo básico: o direito a ter uma educação básica. Se para uma pessoa que não tem nenhum desses fardos em cima, já é difícil ter uma mínima instrução, haja vista a falência crônica da educação no Brasil, imagine como é a situação de quem ainda tem que ouvir chacotas, sofrer violência, moções de repúdio (o filme Ma vie en rose trata desse assunto esplendorosamente).
Terminado o ensino básico, algo ainda mais desafiador: a universidade! Difícil de entrar (pelo menos as de qualidade), mais difícil ainda de sair. Aí vemos a que ponto chega a hipocrisia da "sociedade multicultural". A universidade precisa reconhecer que existe uma identidade transgênera para daí passar a tratar, ainda que precariamente, a pessoa de uma forma mais humanizada. Aquele que deveria ser um lugar de tolerância continua sendo um palco de aviltações à personalidade. Formar-se então, pode ser um pesadelo. Como é que eu chamo o José pra receber o canudo e me aparece a Joana?
Felizmente a realidade parece (digo parece) estar mudando. O reconhecimento do nome social nas universidades é algo que ameniza um constrangimento. É o ideal? Não, mas é o máximo que a nossa sociedade hipócrita ainda está disposta a entender. Devemos parar? Nunca, pois relaxar é aceitar essa desproporção.
Atualmente estou fazendo um esforço para tentar voltar à universidade, que larguei quando vim para São Paulo. Espero conseguir. E àquelas que conseguiram passar os percalços e obtiveram o nível médio, espero que também consigam entrar numa universidade. E assim teremos mais Lumas contribuindo com a ciência e dando um basta à hipocrisia.
A pergunta que fica: é algo possível? A resposta é sim. É algo fácil? Infelizmente não.
Nem todas conseguem suportar a pressão psicológica terrível que se abate contra quem ousa quebrar paradigmas; pressão da escola, que não sabe como lidar com a situação, pois não foi capacitada (está aí um aviso para salvar os nossos cursos de pedagogia à beira do penhasco), da família (que rejeita o não-ortonormativo porque ou o padre/pastor/rabino/fdpqueseja disse que é coisa do diabo, ou porque tem medo de ficar em desvantagem nos seus complexos jogos de vaidades inter/intrafamiliares, ou porque simplesmente não consegue entender o diferente) e do Estado (que descaracteriza as identidades não-"normais", não as reconhecendo, colocando-as como patológicas ou mesmo criminosas).
As que conseguem sabem o quão dura foi a luta para conseguir algo básico: o direito a ter uma educação básica. Se para uma pessoa que não tem nenhum desses fardos em cima, já é difícil ter uma mínima instrução, haja vista a falência crônica da educação no Brasil, imagine como é a situação de quem ainda tem que ouvir chacotas, sofrer violência, moções de repúdio (o filme Ma vie en rose trata desse assunto esplendorosamente).
Terminado o ensino básico, algo ainda mais desafiador: a universidade! Difícil de entrar (pelo menos as de qualidade), mais difícil ainda de sair. Aí vemos a que ponto chega a hipocrisia da "sociedade multicultural". A universidade precisa reconhecer que existe uma identidade transgênera para daí passar a tratar, ainda que precariamente, a pessoa de uma forma mais humanizada. Aquele que deveria ser um lugar de tolerância continua sendo um palco de aviltações à personalidade. Formar-se então, pode ser um pesadelo. Como é que eu chamo o José pra receber o canudo e me aparece a Joana?
Felizmente a realidade parece (digo parece) estar mudando. O reconhecimento do nome social nas universidades é algo que ameniza um constrangimento. É o ideal? Não, mas é o máximo que a nossa sociedade hipócrita ainda está disposta a entender. Devemos parar? Nunca, pois relaxar é aceitar essa desproporção.
Atualmente estou fazendo um esforço para tentar voltar à universidade, que larguei quando vim para São Paulo. Espero conseguir. E àquelas que conseguiram passar os percalços e obtiveram o nível médio, espero que também consigam entrar numa universidade. E assim teremos mais Lumas contribuindo com a ciência e dando um basta à hipocrisia.
Foto: Divulgação / A Capa
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Inovação que inova pouco
A colega chega e me pergunta: como fica a questão do hormônio? Preciso ASSUSTADORAMENTE dele! (tá, to exagerando, massssss)
Eis que faço o costume matinal de dar uma olhadinha no Diário Oficial, e eis que já nos destaques, aparece a seguinte chamada: "Processo Transexualizador no SUS é redefinido e ampliado". Achando que teríamos boas notícias, fui ler, e bem, mais uma vez o governo preferiu fazer menos. Bem menos.
Foi publicada hoje a Portaria 2.803, do Ministério da Saúde (pra quem tiver paciência, DOU1, páginas 25 a 30), sobre o básico que deve ser oferecido pelo SUS no processo transexualizador, que envolve o tratamento clínico, pré e pós-cirúrgico e a cirurgia propriamente dita. Vou fazer um quadrinho básico sobre o que na prática essa portaria quer dizer, e aí entenderão que pouco mudou.
Pontos favoráveis
- Divisão entre procedimentos ambulatoriais e hospitalares: como montar uma equipe de cirurgiões é muito mais complicado que montar um grupo de acompanhamento pré e pós-operatório, veio a calhar essa divisão, para facilitar a formação de grupos e ampliar o processo de triagem.
- Ficam bem claros todos os procedimentos necessários para que uma equipe multidisciplinar seja formada em ambos os tipos de procedimentos, o que em teoria garante um atendimento integral.
- Especificação de todos os procedimentos que são cobertos pelo SUS no âmbito do processo transexualizador, incluídos aí a mastectomia, a histerectomia, a orquiectomia, cirurgias complementares, e implante de silicone.
- Reforço do respeito dos profissionais de saúde do SUS, e principalmente neste âmbito, ao nome social, que pode soar meio bobo, mas que em muitas praças e estabelecimentos, parece não existir (tiro por mim mesma e meu imbróglio na Santa Casa).
Pontos que poderiam ter sido diferentes
- Não redução das idades mínimas para a hormonização e procedimentos pré-operatórios e cirúrgicos: grande polêmica foi feita no começo do ano, quando o MS baixou uma portaria permitindo a hormonização via SUS a partir dos 16 e cirurgia com 18, que foi prontamente revogada. Não autorizar essa redução só vai incentivar adolescentes a tomarem hormônios por conta e sem nenhum acompanhamento médico especializado, o que vai acarretar futuramente um problema de saúde pública que espero não ver.
- Falta de esclarecimento sobre a interação entre o procedimento ambulatorial e hospitalar, exemplo, como encaminhar aquela pessoa do grupo que já tem as condições totais para se submeter à cirurgia para as filas dos hospitais habilitados (atualmente são quatro). Hoje, cada um faz o seu procedimento para aceitar gente na fila e impõe algumas restrições, alegando demanda excessiva (o que não deixa de ser verdade). Uma padronização dos procedimentos ou mesmo uma fila única poderia amenizar mais esse martírio.
Tem muita coisa que devo estar esquecendo, por ter lido apenas de relance, então se tiverem alguma interpretação que eu tenha deixado escapar, à vontade ali no comentário.
Eis que faço o costume matinal de dar uma olhadinha no Diário Oficial, e eis que já nos destaques, aparece a seguinte chamada: "Processo Transexualizador no SUS é redefinido e ampliado". Achando que teríamos boas notícias, fui ler, e bem, mais uma vez o governo preferiu fazer menos. Bem menos.
Foi publicada hoje a Portaria 2.803, do Ministério da Saúde (pra quem tiver paciência, DOU1, páginas 25 a 30), sobre o básico que deve ser oferecido pelo SUS no processo transexualizador, que envolve o tratamento clínico, pré e pós-cirúrgico e a cirurgia propriamente dita. Vou fazer um quadrinho básico sobre o que na prática essa portaria quer dizer, e aí entenderão que pouco mudou.
Pontos favoráveis
- Divisão entre procedimentos ambulatoriais e hospitalares: como montar uma equipe de cirurgiões é muito mais complicado que montar um grupo de acompanhamento pré e pós-operatório, veio a calhar essa divisão, para facilitar a formação de grupos e ampliar o processo de triagem.
- Ficam bem claros todos os procedimentos necessários para que uma equipe multidisciplinar seja formada em ambos os tipos de procedimentos, o que em teoria garante um atendimento integral.
- Especificação de todos os procedimentos que são cobertos pelo SUS no âmbito do processo transexualizador, incluídos aí a mastectomia, a histerectomia, a orquiectomia, cirurgias complementares, e implante de silicone.
- Reforço do respeito dos profissionais de saúde do SUS, e principalmente neste âmbito, ao nome social, que pode soar meio bobo, mas que em muitas praças e estabelecimentos, parece não existir (tiro por mim mesma e meu imbróglio na Santa Casa).
Pontos que poderiam ter sido diferentes
- Não redução das idades mínimas para a hormonização e procedimentos pré-operatórios e cirúrgicos: grande polêmica foi feita no começo do ano, quando o MS baixou uma portaria permitindo a hormonização via SUS a partir dos 16 e cirurgia com 18, que foi prontamente revogada. Não autorizar essa redução só vai incentivar adolescentes a tomarem hormônios por conta e sem nenhum acompanhamento médico especializado, o que vai acarretar futuramente um problema de saúde pública que espero não ver.
- Falta de esclarecimento sobre a interação entre o procedimento ambulatorial e hospitalar, exemplo, como encaminhar aquela pessoa do grupo que já tem as condições totais para se submeter à cirurgia para as filas dos hospitais habilitados (atualmente são quatro). Hoje, cada um faz o seu procedimento para aceitar gente na fila e impõe algumas restrições, alegando demanda excessiva (o que não deixa de ser verdade). Uma padronização dos procedimentos ou mesmo uma fila única poderia amenizar mais esse martírio.
Tem muita coisa que devo estar esquecendo, por ter lido apenas de relance, então se tiverem alguma interpretação que eu tenha deixado escapar, à vontade ali no comentário.
sábado, 16 de novembro de 2013
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
A via dolorosa
Quando menino, tinha o péssimo costume de querer as coisas "na marra", fazendo birra, esperneando, gritando, xingando. Quando conseguia o que queria, não o fazia sem me machucar, ou machucar outros. Talvez essa impulsividade tenha a ver com o que queria exteriorizar. Talvez quisesse exteriorizar de forma mais chocante. Na marra. E foi mesmo.
Agora, parece que um vento de tranquilidade se instalou. Nada de querelas sem resultado, menos discussões extremas, o policiamento eterno contra as estupidezes. Tentar algo por meio do diálogo, do entendimento, da persuasão, mostrou-se um instrumento mais eficaz na assimilação do meu novo eu, por outros e até por mim mesma. Mas uma hora só o convencimento não é mais suficiente.
E aí temos que apelar para outros expedientes, mais tensos, mais radicais. É a chamada "via dolorosa". Aquela pela qual tod@s um dia passamos ou passaremos, por lealdade aos nossos princípios, para exigir um respeito. Mas não o respeito que se é conquistado no curso do tempo, com o reconhecimento do nosso valor moral, das nossas capacidades técnicas ou intelectuais.
É antes de tudo a exigência de um respeito inato, aquele a que todos já temos direito sem precisar pedir. Ou no nosso caso mais específico, implorar. Queria não precisar espernear, mas a capacidade de persuasão já se me foi. E uma conquista que, em termos filosóficos, poderia ser feita pela franca exposição de motivos e conversa, acaba pendendo para as tenebrosas soluções jurídicas, impositivas e exaustivas. Um respeito inato que precisa ser conseguido na marra.
Vídeo da noite: Ana Moura - Desfado
Somos tod@s uma sucessão de controvérsias. Ana Moura canta muito bem essa característica do ser humano.
Ai, que desgraça essa sorte que me assiste
Ai, mas que sorte eu viver tão desgraçada
Na incerteza que nada mais certo existe
Além da grande certeza de não estar certa de nada
Agora, parece que um vento de tranquilidade se instalou. Nada de querelas sem resultado, menos discussões extremas, o policiamento eterno contra as estupidezes. Tentar algo por meio do diálogo, do entendimento, da persuasão, mostrou-se um instrumento mais eficaz na assimilação do meu novo eu, por outros e até por mim mesma. Mas uma hora só o convencimento não é mais suficiente.
E aí temos que apelar para outros expedientes, mais tensos, mais radicais. É a chamada "via dolorosa". Aquela pela qual tod@s um dia passamos ou passaremos, por lealdade aos nossos princípios, para exigir um respeito. Mas não o respeito que se é conquistado no curso do tempo, com o reconhecimento do nosso valor moral, das nossas capacidades técnicas ou intelectuais.
É antes de tudo a exigência de um respeito inato, aquele a que todos já temos direito sem precisar pedir. Ou no nosso caso mais específico, implorar. Queria não precisar espernear, mas a capacidade de persuasão já se me foi. E uma conquista que, em termos filosóficos, poderia ser feita pela franca exposição de motivos e conversa, acaba pendendo para as tenebrosas soluções jurídicas, impositivas e exaustivas. Um respeito inato que precisa ser conseguido na marra.
Vídeo da noite: Ana Moura - Desfado
Somos tod@s uma sucessão de controvérsias. Ana Moura canta muito bem essa característica do ser humano.
Ai, que desgraça essa sorte que me assiste
Ai, mas que sorte eu viver tão desgraçada
Na incerteza que nada mais certo existe
Além da grande certeza de não estar certa de nada
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Declaração de emancipação
Marina deixa um pouco a abstração dos pseudônimos e encara de frente a realidade. Deixar de ser artista de um mundo paralelo e ser a artista do mundo real que se precisa ser é uma imposição. Num momento em que a individualidade é posta em xeque pela insensibilidade, mostrar-se é melhor que esconder-se. Nos vemos por aí.
Vídeo da noite: Laura Pausini - La prospettiva di me
Olha a Laura de novo aí. Essa música ela fez numa época bem colérica, depois de um relacionamento de anos que lhe teve um custo emocional muito grande. Mas me identifico um pouco com ela, é uma das minhas preferidas do repertório da Laura.
Mesmo se isso não trata mais de nós
Você já não é mais que um detalhe
Porque me fascina a autonomia
A minha perspectiva.
Vídeo da noite: Laura Pausini - La prospettiva di me
Olha a Laura de novo aí. Essa música ela fez numa época bem colérica, depois de um relacionamento de anos que lhe teve um custo emocional muito grande. Mas me identifico um pouco com ela, é uma das minhas preferidas do repertório da Laura.
Mesmo se isso não trata mais de nós
Você já não é mais que um detalhe
Porque me fascina a autonomia
A minha perspectiva.
sábado, 21 de setembro de 2013
Seja feliz mesmo que te esmaguem!
O que se passou comigo esta semana me lembrou bastante uma sequência de um filme que estou em dúvida sobre qual é, se alguém lembrar, me diga. Nessa sequência, a agente secreta falava que tinha passado junto com alguns colegas por um treinamento árduo sobre até que ponto eles conseguiam esconder informações. Cada um foi colocado dentro de sacos e passou a levar socos e pontapés até que revelassem algo. A agente não revelou nada e aguentou toda aquela pancadaria. Em suas palavras, era incorruptível.
Acontece com pessoas que não são agentes secret@s também. Por vezes, os nossos princípios e nossas necessidades nos fazem ter de aguentar "socos e pontapés" para não desistirmos, às vezes esporadicamente, às vezes diariamente, ou até mesmo a cada vez que se respira. Pode ser uma resposta atravessada, uma negativa dolosa, ou até a violência física.
Vou finalizar meio panfletária, mas o caminho é abstrair, enfrentar as adversidades e as privações, e considerar que toda essa situação é prenúncio de um tempo bom que vem depois.
Acontece com pessoas que não são agentes secret@s também. Por vezes, os nossos princípios e nossas necessidades nos fazem ter de aguentar "socos e pontapés" para não desistirmos, às vezes esporadicamente, às vezes diariamente, ou até mesmo a cada vez que se respira. Pode ser uma resposta atravessada, uma negativa dolosa, ou até a violência física.
Vou finalizar meio panfletária, mas o caminho é abstrair, enfrentar as adversidades e as privações, e considerar que toda essa situação é prenúncio de um tempo bom que vem depois.
Foto: Sabrina Garcia
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Por um atendimento de saúde digno
Íntegra da ficha de reclamação que entreguei na ouvidoria da Santa Casa ontem (os trechos cobertos contêm dados pessoais).
Relato as frequentes situações de constrangimento pelas quais passo em meus atendimentos na Santa Casa de São Paulo, e que creio, devem ser objeto de providência.
Desde junho de 2012, passo por atendimento no Centro de Atenção Integral à Saúde Mental (CAISM) e desde dezembro do mesmo ano, solicitei, com anuência da médica assistente, a inclusão do nome social MARINA...
Nos atendimentos posteriores, a referida médica assistente, os que se seguiram e os funcionários do CAISM sempre me tratavam por Marina, porém as fichas de atendimento indicavam no campo "nome social" apenas MARINA, sem os sobrenomes como pedido. Não sei se isso foi falha no sistema ou má-fé.
Situação pior é a que passo quando necessito de atendimento nas unidades centrais da Santa Casa, como o Conde de Lara, o Pronto-Socorro Central ou o laboratório. Nunca algum médico prestou atenção no campo "nome social" ali preenchido e mesmo informando aos atendentes da triagem no laboratório sobre o nome social, tal informação é sempre ignorada e meu nome civil é gritado em alto e bom som, causando desconforto desnecessário.
Recomendo que seja conscientizado aos médicos e funcionários que prestam serviço a essa importante instituição de saúde da cidade de São Paulo acerca do respeito aos (ainda poucos, mas existentes) direitos básicos das pessoas transgêneras às saúde integral, como parte das políticas públicas a respeito, independentemente de quaisquer influências religiosas, uma vez que o recurso público deve ser usufruído por toda a sociedade.
Qualquer um que tenha sofrido ataques à sua individualidade, tratamento desrespeitoso, ou que queira sugerir um atendimento mais humano nas instituições públicas de saúde deve usar a melhor arma existente: a nossa voz. Procure a ouvidoria de saúde do posto, ou da secretaria de saúde do município ou do Estado. No caso da Santa Casa, a ouvidoria fica no Ambulatório Conde de Lara, no subsolo, no balcão do SAC.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Eu não sou eu
Parece que nunca serei eu.
À minha sombra sombra estará sempre o que fui.
Por mais que eu diga "ele não existe mais", me tratarão por ele.
Pior, me chamarão com o nome dele.
Mesmo sabendo de sua partida.
Para alguns, eu sou ele.
Para mim, eu sou eu.
Contento-me por isso não ter sido raptado de mim.
À minha sombra sombra estará sempre o que fui.
Por mais que eu diga "ele não existe mais", me tratarão por ele.
Pior, me chamarão com o nome dele.
Mesmo sabendo de sua partida.
Para alguns, eu sou ele.
Para mim, eu sou eu.
Contento-me por isso não ter sido raptado de mim.
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
A síndrome de coitadinha
Algo que me irrita bastante no meio trans é essa predisposição a ficar se lamuriando de sua condição para deixar estampados seu sofrimento, sua invisibilidade e seu estatuto de pária na sociedade preconceituosa que temos. É o que convencionei chamar de "síndrome de coitadinha". Geralmente não vem acompanhada de uma atitude para reverter essa situação de pretenso abandono ou demérito. As razões para a perpetuação desse comportamento as desconheço. Talvez possa ser realmente efeito de uma impotência tão grande que as mazelas impostas pela estigmatização causaram na pessoa, mas em certos casos, noto um certo exagero, um "sou o que sou porque sofri, chorei, apanhei em casa, na escola, na rua", numa ladainha que fica extremamente chata. O texto a seguir exemplifica bem o que estou tentando dizer.
O melancólico masoquismo das narrativas trans*
por Letícia Lanz
O melancólico masoquismo das narrativas trans*
por Letícia Lanz
Se tem uma coisa que me incomoda muito, tanto na condição de pessoa trans* como na profissão de psicanalista, é ver a quantidade de masoquismo, dramaticidade, morbidez e auto-piedade neurótica embutida em inúmeras narrativas trans* que circulam pela internet. Narrativas que eu convencionei chamar de “coitadismo de mim”.
A intenção parece ser boa, ou seja, angariar a atenção e o carinho do maior número possível de pessoas pelo resgate dos direitos civis que estão sendo amplamente ofuscados, invisibilizados ou simplesmente negados às pessoas transgêneras neste país. Mas é preciso dizer, sim, que a forma adotada – a narrativa mórbida-masoquista – é grotescamente neurótica, baseada numa redução drástica da riquíssima vida transgênera a um balde de muitas merdas: merda familiar, merda escolar, merda profissional, merda de grana, merda existencial… Merda pura.
Mas o que acontece quando um texto desses cai nas mãos de uma pessoa transgênera, começando agora o seu processo de transição, ainda muito insegura de tudo? Será que ela desiste de seguir adiante em função da previsão de tantas infelicidades e desconfortos no seu caminho?
Eu sinceramente não acredito que uma pessoa transgênera desistisse da sua jornada em função desses vaticínios. A liberdade e o direito de ser a pessoa que a gente é fala mais alto do que qualquer limitação ou dificuldade existente no mundo à nossa volta.
Assim, eu não vejo outro motivo nesses lamuriosos textos de padecimentos e dores ilimitadas, senão reforçar a visão de culpa, de menos valia, de 5ª-pessoa-depois-de-ninguém que vigora no meio transgênero.
Submeter-se ao sofrimento e reforça-lo em toda oportunidade possível e imaginável é uma forma hábil de lidar com a culpa, com a vergonha de estar praticando um ato socialmente reprovável. É assim que o inconsciente funciona, para tristeza de todas nós, que nos acreditamos tão conscientes do nosso ativismo trans.
A única forma de lidar produtivamente com o sofrimento é transformá-lo em pauta de reivindicações e lista de providências. Manter o sofrimento eternamente refém de sofridas narrativas de vida é uma forma cruel de reforçar a punição que já nos foi largamente imposta pela sociedade. Ainda que tenha um inegável valor catártico para quem a escreve ou fala sobre ela, narrativas de cunho altamente doído e sofredor não acrescentam nada em termos práticos para os fins da criação de estratégias que conduzam a resultados efetivos.
Vivi muitos conflitos e tensões ao longo da vida em virtude da minha condição transgênera. Tenho irmão que não fala comigo, mãe que faz de conta que eu nem existo, clientes que sumiram do mapa por medo ou “desconforto” de conviverem com uma consultora trans*. Saí de uma condição de fartura para uma falta total e absoluta de grana. Por muito tempo fiquei sem nenhuma fonte de renda, além de uma aposentadoria de um salário mínimo. Com mais de 50 anos nas costas, tive que recomeçar tudo de novo, do zero. Sem falar que estive à beira de perder minha família – mulher, filhos, netos – que são o patrimônio mais precioso que reuní neste mundo. Fiquei pra baixo do fundo do poço: sem grana, sem emprego, sem perspectiva profissional, pessoal, familiar. Minha história não é segredo pra ninguém.
Mas nem por isso eu me deixei levar pelo sofrimento. Odeio sofrimento, odeio sofrer! Odeio dor, odeio papo masoquista do tipo “o mundo está contra mim”, “o mundo quer me destruir” e outras bobagens semelhantes. Eu escolhi assumir a minha condição de pessoa trans*. Ninguém me forçou a isso. Nenhum destino cruel me empurrou para as masmorras do inferno. Repito: eu escolhi dar cada passo que dei em minha vida, plenamente consciente do passo que eu estava dando.
Sabia perfeitamente que, ao me assumir trans*, perderia meus clientes empresariais. Convivi a vida inteira no ambiental empresarial brasileiro e sei como ele é conservador, como tem uma dificuldade crônica de lidar com a diferença, qualquer diferença.
Enfim, eu não dei um pulo no escuro, apenas imaginando o que eu poderia encontrar pela frente: – eu tinha certeza antecipada de tudo que ia passar. Em nenhum momento eu fui tola de pensar que, ao assumir-me trans* eu seria condecorada pelo prefeito da cidade, em sessão solene, pelo meu ato de bravura, com direito a banda de música e fogos de artifício. Muito pelo contrário, sabia dos dias e noites dificílimos que teria pela frente. Dias de sangue e suor e noites de muitas, muitas lágrimas.
Mas em momento nenhum eu permiti que o meu sofrimento se transformasse em bandeira, em motivo de piedade dos outros. Porque, em momento nenhum, o sofrimento que eu senti foi maior do que a imensa sensação de liberdade, de prazer em me conhecer, em me reconhecer, em me legitimar como pessoa nesse mundo.
Nenhum sofrimento, por mais agudo que fosse – e posso assegurar que alguns, de tão dolorosos, deixaram marcas profundas no meu próprio coração – foi maior do que a minha alegria de conseguir, finalmente, ser “eu mesma”, depois de décadas tentando fazer me passar por alguma outra coisa… E falo isso sem romantismo nenhum, porque as marcas foram profundas mesmo, no meu coração: uma arritmia crônica e alguns “stents”.
Em síntese: jamais permiti que as dificuldades de ser uma pessoa diferente, num mundo tão monotonamente igual, se transformassem em fonte de amargura e morbidez. Como reafirmo a todo momento em que me vejo no espelho, tudo valeu a pena. Não troco a minha liberdade e o tamanho do meu ser atual por nenhuma conta bancária, por nenhum sucesso profissional, por nenhum reconhecimento público, enfim, por nada deste mundo ou de qualquer outro.
Por isso, recuso terminantemente o “coitadismo de mim” que tem caracterizado a maioria das narrativas trans* que ouço e leio por aí. Eu digo a maioria porque, felizmente, há muitas, belas e magnifícas exceções. Para nosso orgulho, há pessoas transgêneras que teriam tudo pra chorar noite e dia, em razão de todas as provações e humilhações que já passaram neste mundo e que, no entanto, estão aí, distribuindo sorrisos de simpatia e apostando na vida como grandes vitoriosas que são.
Pessoas que se recusam posar de vítimas, mesmo tendo passado poucas e boas (ou seja, muitas e ruins…) nas mãos dessa sociedade. Pessoas que não se entregam a uma autopiedade neurótica, resultante de um masoquismo crônico em que o sofrimento, em todas as suas formas mais cruéis e virulentas, vem adiante da conquista da própria individualidade, no ato de se assumir como pessoa trans*.
Eu sou uma pessoa trans* e não abro mão disso, já disse, por nada deste mundo. Tenho um orgulho pra lá de grande em ser e não tenho a menor inveja de quem não é. Sou uma pessoa incrível, uma profissional dificílima de se encontrar. De modo que, se algum dia, resolverem lançar mão da competência, em vez dos apadrinhamentos e conchavos políticos, talvez até se lembrem de mim. Se se lembrarem, ficarei imensamente feliz por conquistar novas oportunidades de trabalho. Se não se lembrarem, fiquei igualmente feliz por não ter que lidar com gente que tem dificuldade de lidar comigo.
E quanto às desesperadas narrativas masoquistas, infelizmente tão comuns no mundo trans, recomendo que as pessoas tentem pensar e sentir efetivamente o que estão dizendo. E, se chegarem à conclusão de que, ser trans, é efetivamente esse tenebroso “mar de lágrimas”, talvez seja mais recomendável tentarem ser pessoas cisgêneras. Comuns, normais e totalmente livres de sofrimento… afff!
Vídeo da noite
Laura Pausini e Kylie Minogue - Limpido
Estou com um post no prelo, mas preciso de uma autorização antes, então pra não deixar o blog vazio, vou postar essa música, aliás, saída do forno, de minha musa Laura Pausini, em dueto com a Kylie Minogue. Analisando por um lado bem filosófico, podemos pensar nas personas que deixamos para trás, mas cujos traços estarão sempre dentro de nós.
Deixando estar, sem mais brigas, o tempo vai lhe mostrar o que você significa para mim
Deixando estar, meus instintos livres, da escuridão eu vou ressurgir límpida
Deixarei que seja o tempo que decida o que você é para mim
Deixarei ao instinto e aquele céu depois vai retornar límpido
Talvez não fomos feitos para mudar, talvez não mudaremos nunca
Estou com um post no prelo, mas preciso de uma autorização antes, então pra não deixar o blog vazio, vou postar essa música, aliás, saída do forno, de minha musa Laura Pausini, em dueto com a Kylie Minogue. Analisando por um lado bem filosófico, podemos pensar nas personas que deixamos para trás, mas cujos traços estarão sempre dentro de nós.
Deixando estar, sem mais brigas, o tempo vai lhe mostrar o que você significa para mim
Deixando estar, meus instintos livres, da escuridão eu vou ressurgir límpida
Deixarei que seja o tempo que decida o que você é para mim
Deixarei ao instinto e aquele céu depois vai retornar límpido
Talvez não fomos feitos para mudar, talvez não mudaremos nunca
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Nota de repúdio
Antes de terminar de me arrumar, só queria deixar registrada a minha ojeriza à sigla HSH, sigla para a expressão "homens que fazem sexo com homens", para identificar, prestem atenção, homens que têm relações sexuais com outros homens e não se consideram gays! Seriam heterossexuais por acaso? Desde lá na quinta série, na gramática, a gente aprende que "hetero" vem do grego e quer dizer "diferente". Fazendo analogia com a historinha que eu publiquei outro dia (lembrem-se dela, acho que passarei a usá-la bastante), é como um melão fazer suco de melão e ainda assim dizer que é uma laranja. Tipo, o cara dá a bunda e não é gay? Pode ser um preconceito meu, mas é no mínimo bizarra essa diferenciação. Será que a expressão "bi" é tão humilhante assim?
Para constar: já é bem conhecida essa expressão nos meios gênero-sexo-diversos, mas eu a li num documento governamental que tratava de políticas públicas para combater o preconceito contra as populações não-heterossexuais. Só uma prova de que ainda precisamos avançar bastante em questões culturais (até porque nem é tanto culpa desses caras, mas sim dessa criação machista-homofóbica-heteronormativa-retrógrada-puritana que nos enfiam goela abaixo desde a infância) para pensarmos em formas de termos nossas individualidades efetivamente respeitadas.
Para constar: já é bem conhecida essa expressão nos meios gênero-sexo-diversos, mas eu a li num documento governamental que tratava de políticas públicas para combater o preconceito contra as populações não-heterossexuais. Só uma prova de que ainda precisamos avançar bastante em questões culturais (até porque nem é tanto culpa desses caras, mas sim dessa criação machista-homofóbica-heteronormativa-retrógrada-puritana que nos enfiam goela abaixo desde a infância) para pensarmos em formas de termos nossas individualidades efetivamente respeitadas.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Tudo bem comigo
Acabo de voltar de mais uma consulta com a endocrinologista. Fui pegar os resultados dos exames que fiz no mês passado para saber se precisaria passar por algum tratamento. Citei há vários meses atrás que os meus níveis hormonais estavam desregulados, provavelmente por efeito das medicações que tomo.
Qual não foi minha alegria quando a médica simplesmente me disse "Sua tireoide está ótima, não precisa tomar nada". Algo a menos para me preocupar.
Apenas estou um tanto inconformada com a burocracia do sistema público de saúde, já que minha próxima consulta será só no começo do ano que vem, mas pra quem já esperou tanto, dá pra esperar um pouco mais. Um alento foi saber que a chamada para avaliações psicológicas, obrigatórias nesse sistema de tratamento aqui no Brasil, passou por uma reforma e agora está mais ágil. Espero ser chamada antes da próxima consulta.
Como não estou tomando nada (já falei e repito, não vou cair na besteira de me automedicar), os resultados dos hormônios não são nada surpreendentes. Segue.
TSH: 4,71 (baixa drástica em relação ao teste anterior e dentro do valor de referência)
T4 Livre: 0,84 (normal)
Prolactina: 19,44 (ligeiramente acima do valor de referência para o sexo masculino e dentro do valor para o feminino, mas muito mais baixa que a do teste anterior, efeito do corte da risperidona na minha medicação diária)
Estradiol: 40,30 (pouco mais baixo que o teste anterior e dentro dos valores de referência para ambos os sexos)
Testosterona: 517 (alta em relação ao teste anterior e dentro do valor de referência para o sexo masculino)
Demais exames sem alterações.
Vídeo da noite: Adriana Calcanhoto - Esquadros
Para relaxar, uma canção leve com uma letra a se refletir.
Eu ando pelo mundo, e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço, meu amor, cadê você?
Eu acordei, não tem ninguém ao lado
Pela janela do quarto, pela janela do carro
Pela tela, pela janela, quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado, remoto controle
Qual não foi minha alegria quando a médica simplesmente me disse "Sua tireoide está ótima, não precisa tomar nada". Algo a menos para me preocupar.
Apenas estou um tanto inconformada com a burocracia do sistema público de saúde, já que minha próxima consulta será só no começo do ano que vem, mas pra quem já esperou tanto, dá pra esperar um pouco mais. Um alento foi saber que a chamada para avaliações psicológicas, obrigatórias nesse sistema de tratamento aqui no Brasil, passou por uma reforma e agora está mais ágil. Espero ser chamada antes da próxima consulta.
Como não estou tomando nada (já falei e repito, não vou cair na besteira de me automedicar), os resultados dos hormônios não são nada surpreendentes. Segue.
TSH: 4,71 (baixa drástica em relação ao teste anterior e dentro do valor de referência)
T4 Livre: 0,84 (normal)
Prolactina: 19,44 (ligeiramente acima do valor de referência para o sexo masculino e dentro do valor para o feminino, mas muito mais baixa que a do teste anterior, efeito do corte da risperidona na minha medicação diária)
Estradiol: 40,30 (pouco mais baixo que o teste anterior e dentro dos valores de referência para ambos os sexos)
Testosterona: 517 (alta em relação ao teste anterior e dentro do valor de referência para o sexo masculino)
Demais exames sem alterações.
Vídeo da noite: Adriana Calcanhoto - Esquadros
Para relaxar, uma canção leve com uma letra a se refletir.
Eu ando pelo mundo, e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço, meu amor, cadê você?
Eu acordei, não tem ninguém ao lado
Pela janela do quarto, pela janela do carro
Pela tela, pela janela, quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado, remoto controle
sábado, 31 de agosto de 2013
Antes e depois
Foi difícil para mim fazer esta postagem. Não por motivos técnicos, mas por não me sentir à vontade em fazer isso. Mas superei e lá vai.
Por 22 anos minha mente não correspondia ao meu corpo. Tentava mudar a mente. Em vão. Só fiquei em paz comigo mesma quando inverti os papéis e resolvi mudar o corpo.
E o resultado claro vou deixar nessa próxima foto. São duas fotos que tirei em viagens distintas ao Rio de Janeiro, uma de julho de 2011 e outra de agosto agora (obrigada ao meu super amigo Leandro Sousa que rodou Ipanema inteira comigo por mais de uma hora atrás do bendito do prédio, e tirou todas fotos que posto aqui).
Antes: pessoa misteriosa. Depois: pessoa menos misteriosa rsrsrs
A mudança pode parecer pouca. Eu era um menino magrinho, e continuo sendo uma menina magrinha. Mas para mim há um abismo entre o que eu era e o que eu sou.
Ah, e com a vantagem de que posso tomar um daiquiri sem fazerem cara feia pra mim rsrsrsrs esse é do quiosque da Baccardi em Copacabana, tava uma delícia.
Vídeo da noite: Sara Tavares - Bué
"Bué" é uma palavra de origem africana que significa muito, demais. Essa música da Sara Tavares, portuguesa descendente de cabo-verdianos, serve pra tods nós. Porque independente disso ou daquilo, somos o que somos, e somos demais, e devemos nos sentir bem, e ter boas vibrações porque somos demais!
Você aí, ué, você é demais
Vieste gingando para dentro do meu coração
E ele foi pulsando, bate, bate, coração
Essa tua música é feitiço da luz, ela é vibração
Só porque o amor é demais
Porque me sinto bem, muito legal
Porque tenho boas vibrações
Por 22 anos minha mente não correspondia ao meu corpo. Tentava mudar a mente. Em vão. Só fiquei em paz comigo mesma quando inverti os papéis e resolvi mudar o corpo.
E o resultado claro vou deixar nessa próxima foto. São duas fotos que tirei em viagens distintas ao Rio de Janeiro, uma de julho de 2011 e outra de agosto agora (obrigada ao meu super amigo Leandro Sousa que rodou Ipanema inteira comigo por mais de uma hora atrás do bendito do prédio, e tirou todas fotos que posto aqui).
Antes: pessoa misteriosa. Depois: pessoa menos misteriosa rsrsrs
A mudança pode parecer pouca. Eu era um menino magrinho, e continuo sendo uma menina magrinha. Mas para mim há um abismo entre o que eu era e o que eu sou.
Ah, e com a vantagem de que posso tomar um daiquiri sem fazerem cara feia pra mim rsrsrsrs esse é do quiosque da Baccardi em Copacabana, tava uma delícia.
Vídeo da noite: Sara Tavares - Bué
"Bué" é uma palavra de origem africana que significa muito, demais. Essa música da Sara Tavares, portuguesa descendente de cabo-verdianos, serve pra tods nós. Porque independente disso ou daquilo, somos o que somos, e somos demais, e devemos nos sentir bem, e ter boas vibrações porque somos demais!
Você aí, ué, você é demais
Vieste gingando para dentro do meu coração
E ele foi pulsando, bate, bate, coração
Essa tua música é feitiço da luz, ela é vibração
Só porque o amor é demais
Porque me sinto bem, muito legal
Porque tenho boas vibrações
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
Situação hipotética
Você entra numa lanchonete.
- Por gentileza, um suco de laranja.
O atendente olha bem, cochicha com alguém que parece ser o gerente do lugar.
Vai até onde estão as frutas, pega um melão, faz o suco e lhe entrega.
Você olha o suco de melão.
- Desculpe, eu pedi suco de laranja.
O atendente faz cara de veja-bem.
- Mas você só pode tomar suco de melão.
Você fica em choque.
- Espere um pouco! Primeiro, eu não gosto de suco de melão, e segundo, se eu pedi suco de laranja, e tem laranja, porque eu estou vendo ali nas frutas, eu não sei porque eu não teria direito a um suco de laranja. Me chame o gerente.
O gerente vai falar com você.
- Então, eu pedi um suco de laranja, o atendente vem e me traz um suco de melão, e me dá uma razão estúpida pra não me trazer o de laranja!
- Mas é que se a gente fizer o suco de laranja pra você, vai ser antinatural, porque você só pode tomar o suco de melão, a laranja dá uma confusão muito grande, a gente faz o suco de laranja e depois o dono vem e xinga a gente, por que vocês deram suco de laranja pra pessoa tal, depois ela reclama do suco na Vigilância Sanitária, e vem uma multa enorme.
- O que você disse? Eu ouvi direito? Isso é um disparate! Eu deveria era sair daqui e ir em outro lugar, mas essa é a única lanchonete aberta na cidade agora, e pra fazer um mísero suco de laranja é essa putaria toda? Eu deveria processar vocês!
Deixo o final da história em aberto, no melhor estilo "você decide", para iniciar o meu raciocínio.
Essa cena pode parecer absurda e irreal, certo? Certo.
Agora vamos transplantá-la para a realidade. Para a nossa realidade específica.
Para um cenário específico: o ambiente de trabalho.
Vamos trocar o pedido: ao invés de um suco de laranja, você só quer ser alguém.
Vamos trocar o suco de melão: para a empresa, você só pode ser "meio alguém".
Vamos entender a "confusão muito grande": é a "burrocracia".
Vamos tipificar a antinaturalidade: é a ignorância.
Vamos justificar a razão estúpida: é o preconceito.
Vamos exemplificar o "medo de problema": ao invés d@ cliente reclamar da laranja na Vigilância Sanitária, @ "meio alguém" resolve fazer um ilícito usando-se da nova realidade.
A única lanchonete aberta é o seu emprego. O outro lugar seria outro emprego.
Achar uma outra lanchonete aberta pode ser fácil, dependendo do lugar. Achar outro emprego não.
Fim do raciocínio. Quanto às reflexões, "they're up to you".
- Por gentileza, um suco de laranja.
O atendente olha bem, cochicha com alguém que parece ser o gerente do lugar.
Vai até onde estão as frutas, pega um melão, faz o suco e lhe entrega.
Você olha o suco de melão.
- Desculpe, eu pedi suco de laranja.
O atendente faz cara de veja-bem.
- Mas você só pode tomar suco de melão.
Você fica em choque.
- Espere um pouco! Primeiro, eu não gosto de suco de melão, e segundo, se eu pedi suco de laranja, e tem laranja, porque eu estou vendo ali nas frutas, eu não sei porque eu não teria direito a um suco de laranja. Me chame o gerente.
O gerente vai falar com você.
- Então, eu pedi um suco de laranja, o atendente vem e me traz um suco de melão, e me dá uma razão estúpida pra não me trazer o de laranja!
- Mas é que se a gente fizer o suco de laranja pra você, vai ser antinatural, porque você só pode tomar o suco de melão, a laranja dá uma confusão muito grande, a gente faz o suco de laranja e depois o dono vem e xinga a gente, por que vocês deram suco de laranja pra pessoa tal, depois ela reclama do suco na Vigilância Sanitária, e vem uma multa enorme.
- O que você disse? Eu ouvi direito? Isso é um disparate! Eu deveria era sair daqui e ir em outro lugar, mas essa é a única lanchonete aberta na cidade agora, e pra fazer um mísero suco de laranja é essa putaria toda? Eu deveria processar vocês!
Deixo o final da história em aberto, no melhor estilo "você decide", para iniciar o meu raciocínio.
Essa cena pode parecer absurda e irreal, certo? Certo.
Agora vamos transplantá-la para a realidade. Para a nossa realidade específica.
Para um cenário específico: o ambiente de trabalho.
Vamos trocar o pedido: ao invés de um suco de laranja, você só quer ser alguém.
Vamos trocar o suco de melão: para a empresa, você só pode ser "meio alguém".
Vamos entender a "confusão muito grande": é a "burrocracia".
Vamos tipificar a antinaturalidade: é a ignorância.
Vamos justificar a razão estúpida: é o preconceito.
Vamos exemplificar o "medo de problema": ao invés d@ cliente reclamar da laranja na Vigilância Sanitária, @ "meio alguém" resolve fazer um ilícito usando-se da nova realidade.
A única lanchonete aberta é o seu emprego. O outro lugar seria outro emprego.
Achar uma outra lanchonete aberta pode ser fácil, dependendo do lugar. Achar outro emprego não.
Fim do raciocínio. Quanto às reflexões, "they're up to you".
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Pensamentos da noite
Fazer a linha depressiva coitadinha não é pra mim. Deixo minhas depressões internalizadas e procuro manter uma capa de otimismo mesmo que por dentro eu queira me sentir um lixo completo.
quarta-feira, 24 de julho de 2013
domingo, 21 de julho de 2013
Dica de ouro
Algodão é melhor que lycra.
Nada mais tenho a dizer, a inspiração não veio essas semanas, tenho que esperá-la chegar.
Vídeo da noite: El sueño de Morfeo - Esta soy yo
Apenas gostei da canção.
Dizem que sou um oceano de gelo
Que tenho que rir mais e calar um pouco menos
Dizem que sou uma menina normal
Com pequenas manias que fazem desesperar
Nada mais tenho a dizer, a inspiração não veio essas semanas, tenho que esperá-la chegar.
Vídeo da noite: El sueño de Morfeo - Esta soy yo
Apenas gostei da canção.
Dizem que sou um oceano de gelo
Que tenho que rir mais e calar um pouco menos
Dizem que sou uma menina normal
Com pequenas manias que fazem desesperar
terça-feira, 9 de julho de 2013
Por aí
Como já está de conhecimento dos meus amigos no Facebook, esse final de semana fui fazer um curto passeio em Curitiba, para o aniversário de um amigo meu. Achei a cidade muito bonita, organizada, e de certo modo, tirei um pouco da má impressão que tinha dos curitibanos.
Aproveitei pra trocar as fotos, que estavam muito desatualizadas, e deixo uma, que cai bem no espírito que estou agora, de deixar levar.
Não vou escrever mais nada porque estou com preguiça rsrsrsrs quando vier a inspiração, eu posto algo.
Aproveitei pra trocar as fotos, que estavam muito desatualizadas, e deixo uma, que cai bem no espírito que estou agora, de deixar levar.
Não vou escrever mais nada porque estou com preguiça rsrsrsrs quando vier a inspiração, eu posto algo.
domingo, 30 de junho de 2013
Rompendo com a passabilidade
Um termo muito comum no meio trans é a tal da "passabilidade", a capacidade de se parecer o máximo possível com a apresentação social que se espera do gênero oposto. Pois bem, nesse quesito, há um espectro muito grande de rotulações: as que são praticamente uma mulher, as muito femininas mas não tanto, as que você vê que têm algo um pouco diferente, as que têm caracteres masculinos quase estampados na testa, e por aí vai.
Um dos meu grandes medos no início da transformação foi esse, o de "não convencer", de ficar com uma feminilidade "artificial". É um sentimento comum entre @s trans, acho. A aversão ao gênero anatômico chega a um nível tão insuportável que um mínimo traço dele na composição é capaz de acabar com a autoestima da pessoa. Tenho traços mais femininos que masculinos, o que pode ser uma sorte, ou quem sabe não.
Romper com essa preocupação excessiva de "parecer" mais, ou menos, é tarefa quase que impossível. A visão falocêntrica do que é o feminino nos leva a extrapolar nossas capacidades para sermos "aceitas" como femininas tal e qual. E isso é ruim. Porque nossa transformação passa a ser feita apenas em função do parecer de outras pessoas, ao invés do nosso próprio conforto.
Ao momento em que a transformação é feita em nosso próprio ritmo, respeitando os nossos limites psíquicos e até mesmo orgânicos, a "passabilidade" passa a ter uma importância muito menor, deixando de ter o status de "meta a ser perseguida" e passando a ser "consequência bem-vinda".
Vídeo da noite: Azis - Sen Trope
A primeira vez que eu vi esse vídeo, o choque visual e de realidade foi tão grande que a primeira coisa que me perguntei foi "Que p. é essa"? Passado o susto inicial, achei algo inusitadamente interessante. Eu não consigo fazer uma descrição sobre o búlgaro Azis (representante da tchalga, um ritmo que mistura pop, eletrônico, ritmos balcânicos, e numa menor escala, algo meio turco, enfim, uma gororoba musical), portanto, deixo o clipe para que vocês tirem suas próprias conclusões.
Um dos meu grandes medos no início da transformação foi esse, o de "não convencer", de ficar com uma feminilidade "artificial". É um sentimento comum entre @s trans, acho. A aversão ao gênero anatômico chega a um nível tão insuportável que um mínimo traço dele na composição é capaz de acabar com a autoestima da pessoa. Tenho traços mais femininos que masculinos, o que pode ser uma sorte, ou quem sabe não.
Romper com essa preocupação excessiva de "parecer" mais, ou menos, é tarefa quase que impossível. A visão falocêntrica do que é o feminino nos leva a extrapolar nossas capacidades para sermos "aceitas" como femininas tal e qual. E isso é ruim. Porque nossa transformação passa a ser feita apenas em função do parecer de outras pessoas, ao invés do nosso próprio conforto.
Ao momento em que a transformação é feita em nosso próprio ritmo, respeitando os nossos limites psíquicos e até mesmo orgânicos, a "passabilidade" passa a ter uma importância muito menor, deixando de ter o status de "meta a ser perseguida" e passando a ser "consequência bem-vinda".
Vídeo da noite: Azis - Sen Trope
A primeira vez que eu vi esse vídeo, o choque visual e de realidade foi tão grande que a primeira coisa que me perguntei foi "Que p. é essa"? Passado o susto inicial, achei algo inusitadamente interessante. Eu não consigo fazer uma descrição sobre o búlgaro Azis (representante da tchalga, um ritmo que mistura pop, eletrônico, ritmos balcânicos, e numa menor escala, algo meio turco, enfim, uma gororoba musical), portanto, deixo o clipe para que vocês tirem suas próprias conclusões.
sábado, 29 de junho de 2013
[OFF] Síndrome do orgasmo pedicular
Vamos falar sobre orgasmo? Esse foi um caso registrado na Holanda de uma mulher que sentia contrações semelhantes às do orgasmo no pé esquerdo. Vamos ver.
Um orgasmo no pé é real? Primeiro caso conhecido relatado por mulher na Holanda
Do Huffington Post (livre tradução)
Uma mulher de 55 anos na Holanda visitou o médico com uma queixa incomum: ela experimentava indesejados orgasmos que começavam no pé dela, de acordo com um novo relatório.
As sensações orgásmicas - que aconteciam no seu pé esquerdo - eram repentinas, não trazidas por desejos ou pensamentos sexuais, e aconteciam em média cinco ou seis vezes por dia, disse o relatório. A sensação percorria sua perna esquerda em direção à sua vagina, e ela disse que a experiência era igual à de um orgasmo atingido durante o sexo.
Estes orgasmos eram muito constrangedores e preocupantes para a mulher, disse o autor do estudo, Dr. Marcel D. Waldinger, que tratou a mulher e é neuropsiquiatra e professor em psicofarmacologia sexual na Universidade de Utrecht.
"Ela se sentia terrível em relação a isso", disse Waldinger.
Imagens de ressonância magnética do cérebro e do pé da mulher não mostraram anormalidades, porém outro teste revelou algumas diferenças entre os nervos do seu pé esquerdo e os do seu pé direito, Waldinger disse à LiveScience. A estimulação do seu pé esquerdo com uma corrente elétrica induzia um orgasmo espontâneo naquele pé, ele disse.
A mulher foi tratada com uma injeção de anestésico em um dos seus nervos espinhais - o nervo que recebe informações sensoriais de seu pé - e os orgasmos cessaram completamente. A mulher não teve nenhum orgasmo no pé passados oito meses, porém ela deverá tomar outra injeção de anestésico caso os sintomas retornem, disse Waldinger.
Os pesquisadores acreditam que o fenômeno foi o resultado de uma espécie de confusão no cérebro.
Cerca de um ano e meio antes de os orgasmos iniciarem, a mulher passou três semanas em uma unidade de tratamento intensivo - parte do tempo, em coma - devido à uma septicemia (infecção generalizada por bactérias). Quando ela saiu do coma, tinha sensações de formigamento e queimação no pé esquerdo, provável resultado de um dano a pequenas fibras nervosas no pé, segundo Waldinger.
Interessantemente, o nervo que registra informações sensoriais do pé entra na medula espinhal no mesmo nível que o nervo que registra informações sensoriais da vagina, segundo Waldinger. Em razão da falha no nervo do pé, o cérebro da mulher não recebia as informações sensoriais do pé, porém recebia as da vagina.
Após um ano e meio, o nervo no pé se regenerou. Quando isso aconteceu, os pesquisadores acreditam que "o cérebro não conseguia mais diferenciar o pé e a vagina, e então decidiu que qualquer estímulo vindo do pé na verdade vinha da vagina", disse Waldinger. "E isso significa uma sensação orgásmica no pé", segundo ele.
Os pesquisadores chamaram a disfunção da mulher "síndrome do orgasmo pedicular", e este é o único caso conhecido desse tipo. (Um orgasmo no pé foi diagnosticado anteriormente em um homem com um pé amputado)
Waldinger pensa que outras pessoas nessa condição devem existir, mas ficam muito constrangidas em falar sobre o assunto. Waldinger quis publicar o relatório do caso em parte para reduzir o estigma que envolve tais condições.
"Não é psicológico", disse Waldinger. "É uma coisa neurológica - podemos explicá-la, podemos tratá-la".
Waldinger espera mais pessoas que possivelmente estejam em condição similar, e criou um website para que as pessoas o contatem.
O estudo foi publicado online em 19 de junho na Revista de Medicina Sexual.
Um orgasmo no pé é real? Primeiro caso conhecido relatado por mulher na Holanda
Do Huffington Post (livre tradução)
Uma mulher de 55 anos na Holanda visitou o médico com uma queixa incomum: ela experimentava indesejados orgasmos que começavam no pé dela, de acordo com um novo relatório.
As sensações orgásmicas - que aconteciam no seu pé esquerdo - eram repentinas, não trazidas por desejos ou pensamentos sexuais, e aconteciam em média cinco ou seis vezes por dia, disse o relatório. A sensação percorria sua perna esquerda em direção à sua vagina, e ela disse que a experiência era igual à de um orgasmo atingido durante o sexo.
Estes orgasmos eram muito constrangedores e preocupantes para a mulher, disse o autor do estudo, Dr. Marcel D. Waldinger, que tratou a mulher e é neuropsiquiatra e professor em psicofarmacologia sexual na Universidade de Utrecht.
"Ela se sentia terrível em relação a isso", disse Waldinger.
Imagens de ressonância magnética do cérebro e do pé da mulher não mostraram anormalidades, porém outro teste revelou algumas diferenças entre os nervos do seu pé esquerdo e os do seu pé direito, Waldinger disse à LiveScience. A estimulação do seu pé esquerdo com uma corrente elétrica induzia um orgasmo espontâneo naquele pé, ele disse.
A mulher foi tratada com uma injeção de anestésico em um dos seus nervos espinhais - o nervo que recebe informações sensoriais de seu pé - e os orgasmos cessaram completamente. A mulher não teve nenhum orgasmo no pé passados oito meses, porém ela deverá tomar outra injeção de anestésico caso os sintomas retornem, disse Waldinger.
Os pesquisadores acreditam que o fenômeno foi o resultado de uma espécie de confusão no cérebro.
Cerca de um ano e meio antes de os orgasmos iniciarem, a mulher passou três semanas em uma unidade de tratamento intensivo - parte do tempo, em coma - devido à uma septicemia (infecção generalizada por bactérias). Quando ela saiu do coma, tinha sensações de formigamento e queimação no pé esquerdo, provável resultado de um dano a pequenas fibras nervosas no pé, segundo Waldinger.
Interessantemente, o nervo que registra informações sensoriais do pé entra na medula espinhal no mesmo nível que o nervo que registra informações sensoriais da vagina, segundo Waldinger. Em razão da falha no nervo do pé, o cérebro da mulher não recebia as informações sensoriais do pé, porém recebia as da vagina.
Após um ano e meio, o nervo no pé se regenerou. Quando isso aconteceu, os pesquisadores acreditam que "o cérebro não conseguia mais diferenciar o pé e a vagina, e então decidiu que qualquer estímulo vindo do pé na verdade vinha da vagina", disse Waldinger. "E isso significa uma sensação orgásmica no pé", segundo ele.
Os pesquisadores chamaram a disfunção da mulher "síndrome do orgasmo pedicular", e este é o único caso conhecido desse tipo. (Um orgasmo no pé foi diagnosticado anteriormente em um homem com um pé amputado)
Waldinger pensa que outras pessoas nessa condição devem existir, mas ficam muito constrangidas em falar sobre o assunto. Waldinger quis publicar o relatório do caso em parte para reduzir o estigma que envolve tais condições.
"Não é psicológico", disse Waldinger. "É uma coisa neurológica - podemos explicá-la, podemos tratá-la".
Waldinger espera mais pessoas que possivelmente estejam em condição similar, e criou um website para que as pessoas o contatem.
O estudo foi publicado online em 19 de junho na Revista de Medicina Sexual.
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Vídeo: Irã, operação por necessidade ou por obrigação?
A médica hoje me pôs também duas colocações interessantes sobre as quais não dissertei no post anterior. A primeira foi sobre a troca de prenome, que pode ser conseguida mesmo sem a cirurgia de transgenitalização; neste caso muda-se apenas o prenome, mas o sexo anatômico continua lá no registro, coisa que só é mudada após a operação.
A segunda, que é a motivação deste post, foi a "pergunta do milhão" que ela fez: "Você quer fazer a cirurgia"? Respondi contundentemente: "Não sei". E não sei mesmo. Será que passar mais de oito horas numa maca sob uma intervenção arriscadíssima e dolorosa tem toda essa capacidade de transformar a minha vida?
E então me lembrei de um doc que vi publicado no blog da Denise Cristina, sobre as operações de transgenitalização no Irã, que foi exibido no GNT. Diferentemente do doc que eu havia postado anteriormente sobre o tema, este trata de um aspecto muito particular: pessoas que passam pela transgenitalização mesmo sem ter esse desejo.
Explicação: segundo as doutrinas da sharia, a lei islâmica, a homossexualidade é pecado (por conseguinte, crime) e é punida com a morte; porém o Irã não encontrou nada no Alcorão que criminalizasse a mudança de sexo. Muit@s então optaram por submeter-se à cirurgia, como forma de não serem vistas como "anormais" dentro da sociedade iraniana e não serem presas por "violação dos bons costumes" ao vestir-se com roupas femininas.
Algumas das entrevistadas no documentário dizem que se pudessem, não realizariam a cirurgia; estavam se submetendo a ela em respeito ao Islã. Vi o vídeo já faz um bom tempo, portanto não lembro se foi falado em índice de suicídios entre quem passa pela transgenitalização lá, mas creio que deve ser um valor alto.
Uma conclusão: esse é um dilema, e uma situação dolorosa, que só ficam em evidência quando um sistema religioso passa a reger o convívio social, adequando-o aos seus dogmas. A sociedade iraniana é prova cabal desta tese. A Turquia passa por conflitos sangrentos para evitar que isso aconteça por lá também. Nas Américas, o extremismo evangélico vai ganhando um espaço assustador e já mostrou o estrago que é capaz de fazer: desde a aprovação da Prop 8 nos Estados Unidos até o ridículo projeto da "cura gay" no Brasil.
Pois... ao vídeo, enjoy.
A segunda, que é a motivação deste post, foi a "pergunta do milhão" que ela fez: "Você quer fazer a cirurgia"? Respondi contundentemente: "Não sei". E não sei mesmo. Será que passar mais de oito horas numa maca sob uma intervenção arriscadíssima e dolorosa tem toda essa capacidade de transformar a minha vida?
E então me lembrei de um doc que vi publicado no blog da Denise Cristina, sobre as operações de transgenitalização no Irã, que foi exibido no GNT. Diferentemente do doc que eu havia postado anteriormente sobre o tema, este trata de um aspecto muito particular: pessoas que passam pela transgenitalização mesmo sem ter esse desejo.
Explicação: segundo as doutrinas da sharia, a lei islâmica, a homossexualidade é pecado (por conseguinte, crime) e é punida com a morte; porém o Irã não encontrou nada no Alcorão que criminalizasse a mudança de sexo. Muit@s então optaram por submeter-se à cirurgia, como forma de não serem vistas como "anormais" dentro da sociedade iraniana e não serem presas por "violação dos bons costumes" ao vestir-se com roupas femininas.
Algumas das entrevistadas no documentário dizem que se pudessem, não realizariam a cirurgia; estavam se submetendo a ela em respeito ao Islã. Vi o vídeo já faz um bom tempo, portanto não lembro se foi falado em índice de suicídios entre quem passa pela transgenitalização lá, mas creio que deve ser um valor alto.
Uma conclusão: esse é um dilema, e uma situação dolorosa, que só ficam em evidência quando um sistema religioso passa a reger o convívio social, adequando-o aos seus dogmas. A sociedade iraniana é prova cabal desta tese. A Turquia passa por conflitos sangrentos para evitar que isso aconteça por lá também. Nas Américas, o extremismo evangélico vai ganhando um espaço assustador e já mostrou o estrago que é capaz de fazer: desde a aprovação da Prop 8 nos Estados Unidos até o ridículo projeto da "cura gay" no Brasil.
Pois... ao vídeo, enjoy.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
O patológico e o necessário
Hoje passei por mais uma consulta no ambulatório de transgêneros. Fui atendida por uma médica bastante simpática e firme nas suas colocações, nos apresentamos, eu passei meu quadro atual de medicações. Ela me fez perguntas sobre a minha "descoberta transgênera", e me lembrei de coisas das quais nem fazia ideia.
Os exames anteriores que eu havia feito, cujos resultados inclusive havia postado aqui, foram interpretados pela médica, que me acalmou dizendo que não eram preocupantes, e sim efeito dos estabilizadores de humor que tomo. A única exceção é a tireoide, essa sim num nível preocupante, com indicação de hipotireoidismo.
Farei novos exames e volto depois para ver os resultados.
Muito interessante foi um dos temas da conversa que tive com a médica: a chamada avaliação psicológica requerida pelo CRT. Sim, a que dá o diagnóstico de transexualismo. Muito leio e ouço sobre a campanha pela despatologização do transgênero, mas algo que a médica me disse hoje faz muito sentido: se o código F64 deixar de existir, deixa de existir também a obrigação de custeio de hormonoterapia e redesignação sexual pelo Estado. Ora, o SUS vai tratar o que não é doença?
Neste momento fiquei sem argumento. E voltei para casa pensando no embate entre despatologização e welfare. Será mesmo que ter um mínimo de dignidade é se sujeitar a ser "mentalmente desequilibrad@"? Despatologizar a transexualidade automaticamente vai torná-la um capricho? Questionamentos para os quais ainda não tenho resposta.
E fazendo aquele public service.... Se você, trans, que mora em São Paulo ou redondezas, precisa de acompanhamento em sua transição, procure o ambulatório de travestis e transexuais do CRT, que presta atendimento gratuito na área, como endocrinologia, distribuição de hormônios, fonoaudiologia, psicologia, e atualmente contam também com uma advogada que auxilia no processo de mudança de nome. Atendem super bem, mas as vagas são suuuuuuuuuuuuper concorridas. O endereço é:
Rua Santa Cruz, 81 - Vila Mariana
próximo ao metrô Santa Cruz
Telefone: (11) 5087-9911
Os exames anteriores que eu havia feito, cujos resultados inclusive havia postado aqui, foram interpretados pela médica, que me acalmou dizendo que não eram preocupantes, e sim efeito dos estabilizadores de humor que tomo. A única exceção é a tireoide, essa sim num nível preocupante, com indicação de hipotireoidismo.
Farei novos exames e volto depois para ver os resultados.
Muito interessante foi um dos temas da conversa que tive com a médica: a chamada avaliação psicológica requerida pelo CRT. Sim, a que dá o diagnóstico de transexualismo. Muito leio e ouço sobre a campanha pela despatologização do transgênero, mas algo que a médica me disse hoje faz muito sentido: se o código F64 deixar de existir, deixa de existir também a obrigação de custeio de hormonoterapia e redesignação sexual pelo Estado. Ora, o SUS vai tratar o que não é doença?
Neste momento fiquei sem argumento. E voltei para casa pensando no embate entre despatologização e welfare. Será mesmo que ter um mínimo de dignidade é se sujeitar a ser "mentalmente desequilibrad@"? Despatologizar a transexualidade automaticamente vai torná-la um capricho? Questionamentos para os quais ainda não tenho resposta.
E fazendo aquele public service.... Se você, trans, que mora em São Paulo ou redondezas, precisa de acompanhamento em sua transição, procure o ambulatório de travestis e transexuais do CRT, que presta atendimento gratuito na área, como endocrinologia, distribuição de hormônios, fonoaudiologia, psicologia, e atualmente contam também com uma advogada que auxilia no processo de mudança de nome. Atendem super bem, mas as vagas são suuuuuuuuuuuuper concorridas. O endereço é:
Rua Santa Cruz, 81 - Vila Mariana
próximo ao metrô Santa Cruz
Telefone: (11) 5087-9911
O frio que vira frieza
As quedas bruscas de temperatura geram um fenômeno muito interessante em mim: a criogenização de sentimentos e emoções. Talvez não esteja tão à vontade com meu corpo, o que se reflete na psique, e por consequência, na afetividade. Fico mais esquiva, mais introspecta. As coisas parecem não me animarem, tampouco mudarem meu estado de espírito.
Uns poucos momentos de riso aqui e acolá, mas a frieza continua. A frieza, dura e congelante. Congelante até a mudança para um clima mais ameno, mais vivo, mais propenso a sentimentos mais alegres e a formas mais intensas de vida.
Uns poucos momentos de riso aqui e acolá, mas a frieza continua. A frieza, dura e congelante. Congelante até a mudança para um clima mais ameno, mais vivo, mais propenso a sentimentos mais alegres e a formas mais intensas de vida.
terça-feira, 25 de junho de 2013
Hibridização
Todo mundo é feito de misturas.
Misturas raciais, culturais, psicossociais.
Todo mundo é um pouco híbrido, seja da maneira que for.
Em pensamento político, aquele neocon com um toque de pro-welfare.
Em hábitos alimentares, aquele que se enfarta de McDonald's e compensa com iogurte e granola.
Em vestimentas, aquele que tem grifes espalhadas pelo guarda-roupa mas não resiste a um passeio no Brás.
O que dizer então dos bipolares (aqueles que têm transtorno, não os "de modinha"), que alternam euforia extremada com depressão profunda?
É, somos todos híbridos.
Em nossos desejos, em nossos sonhos, em nossas visões, até em nossos sexos.
Misturas raciais, culturais, psicossociais.
Todo mundo é um pouco híbrido, seja da maneira que for.
Em pensamento político, aquele neocon com um toque de pro-welfare.
Em hábitos alimentares, aquele que se enfarta de McDonald's e compensa com iogurte e granola.
Em vestimentas, aquele que tem grifes espalhadas pelo guarda-roupa mas não resiste a um passeio no Brás.
O que dizer então dos bipolares (aqueles que têm transtorno, não os "de modinha"), que alternam euforia extremada com depressão profunda?
É, somos todos híbridos.
Em nossos desejos, em nossos sonhos, em nossas visões, até em nossos sexos.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
O que a escola nos ensina
Dias atrás eu estava lembrando da minha época de escola, lá nos primórdios. E me veio a cabeça especificamente um livro que li acho que na terceira ou quarta série (atuais quarto e quinto ano). A princípio é um livro com uma história bem bobinha, típica de um livro infantil, mas sigam meu raciocínio.
A história era de dois irmãos, um menino e uma menina, que viram um arco-íris e não me lembro como resolveram atravessá-lo. Conseguiram e ao passar do arco-íris notaram que haviam "mudado de sexo". O resto do livro mostra a "agonia" dos dois com a nova situação, e ao final concluíram que só "voltariam ao normal" se atravessassem novamente outro arco-íris. Esperaram, e assim o fizeram, o menino voltou a ser menino e a menina voltou a ser menina, e foram felizes para sempre blá blá blá.
A discussão sobre o gênero me suscita algumas dúvidas sobre que tipo de mensagem livros como este passa às nossas crianças. Algumas interpretações: menino "virar" menina e vice-versa são anormalidades, coisas fantasiosas, que não devem ser levadas a sério (representação desta mensagem é a travessia do arco-íris); o dito "normal" é apenas o menino ser menino e a menina ser menina, e o que foge a essa concepção é terminantemente rechaçado (o inconformismo dos dois irmãos com a nova situação); e até mesmo a criação de um sentimento de aversão à diversidade sexual e de gênero (lembremos que o arco-íris é a bandeira do movimento LGBT).
Mais à frente, na sétima série (oitavo ano), quando a educação sexual, pelo menos nas escolas particulares, passa a ser um tema mais discutido, ainda que rasamente (a discussão ainda hoje se volta quase que totalmente ao tema da reprodução e das doenças sexualmente transmissíveis), vemos aquela discussão sobre a reprodução num ponto de vista puramente anatômico, tá, nasceu com pênis, é menino, nasceu com vagina é menina, o que gera as duas distintas "moldagens sociais". E os hermafroditas, são o quê? Qual será sua "moldagem social"?
Não poderia esperar mais, afinal venho de uma comunidade de criação extremamente cristã, sendo que desses cristãos, grande parte é evangélica, e entre os cristãos falar abertamente de sexo é algo de outro mundo, pecaminoso. As questões que ficam são: que novas abordagens em relação à sexualidade e à diversidade de gênero podem ser tomadas pelo sistema educacional? As abordagens existentes e as propostas podem influenciar comportamentos extremistas no presente ou no futuro próximo? Não tenho estas respostas. O espaço de ideias está aberto para contribuições.
Video da noite: Verka Serduchka - Dancing Lasha Tumbai
Nem só de loiras com seios de fora vive a Ucrânia. Verka Serduchka (nome artístico de Andrei Danilko) é um famoso transformista do seu país. Em tempos de tensão, nada como se divertir um pouco com essa apresentação marcante que ficou em segundo lugar no Eurovision Song Contest (o concurso europeu de música) no ano de 2007.
A história era de dois irmãos, um menino e uma menina, que viram um arco-íris e não me lembro como resolveram atravessá-lo. Conseguiram e ao passar do arco-íris notaram que haviam "mudado de sexo". O resto do livro mostra a "agonia" dos dois com a nova situação, e ao final concluíram que só "voltariam ao normal" se atravessassem novamente outro arco-íris. Esperaram, e assim o fizeram, o menino voltou a ser menino e a menina voltou a ser menina, e foram felizes para sempre blá blá blá.
A discussão sobre o gênero me suscita algumas dúvidas sobre que tipo de mensagem livros como este passa às nossas crianças. Algumas interpretações: menino "virar" menina e vice-versa são anormalidades, coisas fantasiosas, que não devem ser levadas a sério (representação desta mensagem é a travessia do arco-íris); o dito "normal" é apenas o menino ser menino e a menina ser menina, e o que foge a essa concepção é terminantemente rechaçado (o inconformismo dos dois irmãos com a nova situação); e até mesmo a criação de um sentimento de aversão à diversidade sexual e de gênero (lembremos que o arco-íris é a bandeira do movimento LGBT).
Mais à frente, na sétima série (oitavo ano), quando a educação sexual, pelo menos nas escolas particulares, passa a ser um tema mais discutido, ainda que rasamente (a discussão ainda hoje se volta quase que totalmente ao tema da reprodução e das doenças sexualmente transmissíveis), vemos aquela discussão sobre a reprodução num ponto de vista puramente anatômico, tá, nasceu com pênis, é menino, nasceu com vagina é menina, o que gera as duas distintas "moldagens sociais". E os hermafroditas, são o quê? Qual será sua "moldagem social"?
Não poderia esperar mais, afinal venho de uma comunidade de criação extremamente cristã, sendo que desses cristãos, grande parte é evangélica, e entre os cristãos falar abertamente de sexo é algo de outro mundo, pecaminoso. As questões que ficam são: que novas abordagens em relação à sexualidade e à diversidade de gênero podem ser tomadas pelo sistema educacional? As abordagens existentes e as propostas podem influenciar comportamentos extremistas no presente ou no futuro próximo? Não tenho estas respostas. O espaço de ideias está aberto para contribuições.
Video da noite: Verka Serduchka - Dancing Lasha Tumbai
Nem só de loiras com seios de fora vive a Ucrânia. Verka Serduchka (nome artístico de Andrei Danilko) é um famoso transformista do seu país. Em tempos de tensão, nada como se divertir um pouco com essa apresentação marcante que ficou em segundo lugar no Eurovision Song Contest (o concurso europeu de música) no ano de 2007.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
O fim de uma pequena batalha (ou o início de uma grande cruzada)
Hoje se encerrou mais um capítulo da novela da minha mudança de nome no trabalho. Finalmente pude colocar no pescoço um crachá que agora me identifica como realmente sou. Foi o resultado de árdua insistência e creio que um dos poucos casos no Brasil, ao menos que eu saiba, pois como diz com muita razão Daniela Andrade, transgênero no Brasil é algo que não existe para a sociedade.
Foto: Sabrina Garcia
Essa é apenas uma partícula do ser social Marina, em constante construção e consolidação, e apenas a primeira de várias conquistas que estão por vir.
PS: na época que eu tirei a foto do crachá meu cabelo ainda era muito curto, então usei a peruca. O natural hoje tá um tanto bizarro provavelmente por causa da posição em que eu me encontrava.
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Novidades
Oi, não esqueci deste blog. Só estava num conflito interior e fiquei em standby por um tempo.
Primeiro, conto que finalmente, depois de seis meses, meu e-mail na empresa estampa o nome Marina, e meu crachá novo está a caminho. Quem sabe ganhe um gás pra trabalhar, que estava precisando. A assinatura incongruente com o vocativo me corroía a alma mensagem a mensagem, e agora a situação se acertou.
Segundo, continuo antiquada. Coisas que fazia enquanto me "identificava", ou ao menos simulava me identificar, como "gay", hoje me fazem pouco sentido, ou até mesmo me dão repulsa.
Terceiro, consegui o que 20 em 10 mulheres SONHAM conseguir: reduzi a calça em dois tamanhos. Agora é só manter a alimentação pra calça continuar boa e eu não ficar com aquela cara anoréxica.
Primeiro, conto que finalmente, depois de seis meses, meu e-mail na empresa estampa o nome Marina, e meu crachá novo está a caminho. Quem sabe ganhe um gás pra trabalhar, que estava precisando. A assinatura incongruente com o vocativo me corroía a alma mensagem a mensagem, e agora a situação se acertou.
Segundo, continuo antiquada. Coisas que fazia enquanto me "identificava", ou ao menos simulava me identificar, como "gay", hoje me fazem pouco sentido, ou até mesmo me dão repulsa.
Terceiro, consegui o que 20 em 10 mulheres SONHAM conseguir: reduzi a calça em dois tamanhos. Agora é só manter a alimentação pra calça continuar boa e eu não ficar com aquela cara anoréxica.
terça-feira, 14 de maio de 2013
Ensaios sobre a transfobia e o creme de cebola
Primeiro, quero dizer que passei um bom tempo sem atualizar o blog por pura falta de assunto. A semana foi muito parada então não tinha o que colocar aqui. Hoje vou fazer dois posts, um médio, mais sério, e um longo, mais fútil. O longo postarei mais tarde, o médio é este. Segundo, o título do texto se dá porque a este momento, quase meia-noite, estou comendo Doritos com creme de cebola (me julguem), mas não tem nada a ver com a "iguaria".
Atualização tardia de 13/06/2013: disse que ia fazer dois posts, mas só postei um. Quando ia começar o segundo capotei de sono e no outro dia esqueci o que ia escrever.
----
Ler é algo que me fascina bastante. Leio de tudo, desde gibi da Mônica até bula de remédio. Como ando muito preguiçosa nos últimos tempos para ler um livro, aliás tenho vários que nem tirei do plástico, passo o tempo a ler coisas na internet, umas interessantes, outras bizarras, outras indignantes, e outras que me deixam com aquela cara blasé. (Momento para um parêntese: deveria passar menos tempo na internet e ler mais livros, admito, mas a internet está se mostrando mais fascinante)
Nesse momento de transição que estou vivendo, acabo por ler muita coisa relacionada ao meio transgênero, e a consequente transfobia. Algo que não tem nada a ver com a homofobia, a aversão aos homossexuais, por um motivo muito simples e que passa despercebido por grande parte do meio gay: um transgênero, seja de qual vertente for, não necessariamente é homossexual. A aversão ao homossexual se dá pela sua orientação sexual diferente da convencionada. A transfobia se dá, na sua quase totalidade, pela simples existência do transgênero.
Desde os repugnantes programas policialescos, sobre os quais prefiro nem comentar, até as políticas públicas incompletas, passando pela intolerância religiosa e falocrática, a transfobia se enraíza e se institucionaliza. Como caso concreto, posso citar a recente decisão da Câmara Municipal de Vitória (ES) de proibir o uso do nome de travestis e transexuais nas escolas da cidade. Ou seja: para o sistema educacional da capital capixaba, uma parcela da população, ainda que pequena (o que na visão mesquinha da política significa poucos votos), não merece ser tratada com dignidade e consequentemente não merece ter pleno direito ao ensino.
Atitudes como esta despertam a ira de certos, como digo, setores, da comunidade trans, os ditos mais esclarecidos, de uma forma iradamente irada (sim, é pra ser redundante mesmo). Já disse anteriormente que estou muito longe de ser uma ativista trans, e minhas experiências incipientes em militância só me fizeram ver que eu não tenho vocação para tanto. Pressinto velhas me tacando pedras a partir de agora.
Vocação para a militância trans é fazer da transexualidade o único e exclusivo tema de suas conversas. Vocação para a militância trans é venerar as terminologias confusas sobre cis, trans, assexual, coisa-sexual, gender-coisa e aquela sopa de letrinhas impronunciável. Vocação para a militância trans é vociferar seu ódio pelos semeadores da transfobia da mesma forma que estes semeiam sua discórdia, de forma amargurada e estúpida. Vocação para a militância trans é esquecer que antes de ser trans se é um ser humano, com vida própria e anseios que não apenas o de ser reconhecid@ como uma pessoa.
Obviamente não estou generalizando a atuação de todas as trans, mas o que eu observo é um certo desespero em se destacar à força da sociedade (imperfeita, mas é a que nós temos). Serviria mais usar essa força existente a disparar gritos contra os transfóbicos para mostrar à sociedade que não somos só "o traveco" da esquina, "a cafetina" do centrão, "a esquisita", "a anormal", "a demente".
----
P.S.: O Doritos acabou. Ainda resta um pouco do creme e o gosto de cebola na boca.
Atualização tardia de 13/06/2013: disse que ia fazer dois posts, mas só postei um. Quando ia começar o segundo capotei de sono e no outro dia esqueci o que ia escrever.
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Ler é algo que me fascina bastante. Leio de tudo, desde gibi da Mônica até bula de remédio. Como ando muito preguiçosa nos últimos tempos para ler um livro, aliás tenho vários que nem tirei do plástico, passo o tempo a ler coisas na internet, umas interessantes, outras bizarras, outras indignantes, e outras que me deixam com aquela cara blasé. (Momento para um parêntese: deveria passar menos tempo na internet e ler mais livros, admito, mas a internet está se mostrando mais fascinante)
Nesse momento de transição que estou vivendo, acabo por ler muita coisa relacionada ao meio transgênero, e a consequente transfobia. Algo que não tem nada a ver com a homofobia, a aversão aos homossexuais, por um motivo muito simples e que passa despercebido por grande parte do meio gay: um transgênero, seja de qual vertente for, não necessariamente é homossexual. A aversão ao homossexual se dá pela sua orientação sexual diferente da convencionada. A transfobia se dá, na sua quase totalidade, pela simples existência do transgênero.
Desde os repugnantes programas policialescos, sobre os quais prefiro nem comentar, até as políticas públicas incompletas, passando pela intolerância religiosa e falocrática, a transfobia se enraíza e se institucionaliza. Como caso concreto, posso citar a recente decisão da Câmara Municipal de Vitória (ES) de proibir o uso do nome de travestis e transexuais nas escolas da cidade. Ou seja: para o sistema educacional da capital capixaba, uma parcela da população, ainda que pequena (o que na visão mesquinha da política significa poucos votos), não merece ser tratada com dignidade e consequentemente não merece ter pleno direito ao ensino.
Atitudes como esta despertam a ira de certos, como digo, setores, da comunidade trans, os ditos mais esclarecidos, de uma forma iradamente irada (sim, é pra ser redundante mesmo). Já disse anteriormente que estou muito longe de ser uma ativista trans, e minhas experiências incipientes em militância só me fizeram ver que eu não tenho vocação para tanto. Pressinto velhas me tacando pedras a partir de agora.
Vocação para a militância trans é fazer da transexualidade o único e exclusivo tema de suas conversas. Vocação para a militância trans é venerar as terminologias confusas sobre cis, trans, assexual, coisa-sexual, gender-coisa e aquela sopa de letrinhas impronunciável. Vocação para a militância trans é vociferar seu ódio pelos semeadores da transfobia da mesma forma que estes semeiam sua discórdia, de forma amargurada e estúpida. Vocação para a militância trans é esquecer que antes de ser trans se é um ser humano, com vida própria e anseios que não apenas o de ser reconhecid@ como uma pessoa.
Obviamente não estou generalizando a atuação de todas as trans, mas o que eu observo é um certo desespero em se destacar à força da sociedade (imperfeita, mas é a que nós temos). Serviria mais usar essa força existente a disparar gritos contra os transfóbicos para mostrar à sociedade que não somos só "o traveco" da esquina, "a cafetina" do centrão, "a esquisita", "a anormal", "a demente".
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P.S.: O Doritos acabou. Ainda resta um pouco do creme e o gosto de cebola na boca.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Um pouco de humor: a Barbie transgênera
A galera do humorístico Diário Pernambucano está sempre na vanguarda da diversidade sexual e de gênero. Abaixo matéria sobre a novidade do mercado.
Mattel lançará Barbie versão transgênero
San Diego, EUA – ExpoToy, maior feira de brinquedos infantis do mundo. Milhares de pessoas disputam a chance de ver os últimos lançamentos da série de bonecas Barbie. Durante os seus cinquenta anos de existência, a figura esbelta e loira da boneca mais famosa do mundo teve variações étnicas como, a afro-americana, Christie, a latina, Theresa e, a asiática, Kira. Agora, chegam às lojas de todo mundo Shirley e Rebeca, as Barbies transgênero e as primeiras a terem genitálias definidas, no caso, pênis.
Segundo a Mattel, as bonecas seguem a tradição das Barbies de refletirem a diversidade e educarem as gerações para a tolerância, sem estabelecer ideais estéticos, raciais ou de gênero. Porém, as elas já estão causando manifestações polêmicas em todo mundo. Sites neonazistas ameaçam incendiar lojas que venderem os produtos, enquanto organizações religiosas divulgam campanhas de boicote à Mattel e recomendam que os “membros” dos brinquedos sejam cortados pelos pais na frente dos filhos. No Brasil, a deputada estadual do Rio de Janeiro, Myriam Rios (PDT), já pede a proibição antecipada do produto no estado. “E se eu comprar uma boneca dessas pro meu filho e ela tentar bolinar ele? Eu vou ter que manter a boneca em casa e não vou poder fazer nada?”, questionou.
Mattel lançará Barbie versão transgênero
San Diego, EUA – ExpoToy, maior feira de brinquedos infantis do mundo. Milhares de pessoas disputam a chance de ver os últimos lançamentos da série de bonecas Barbie. Durante os seus cinquenta anos de existência, a figura esbelta e loira da boneca mais famosa do mundo teve variações étnicas como, a afro-americana, Christie, a latina, Theresa e, a asiática, Kira. Agora, chegam às lojas de todo mundo Shirley e Rebeca, as Barbies transgênero e as primeiras a terem genitálias definidas, no caso, pênis.
Segundo a Mattel, as bonecas seguem a tradição das Barbies de refletirem a diversidade e educarem as gerações para a tolerância, sem estabelecer ideais estéticos, raciais ou de gênero. Porém, as elas já estão causando manifestações polêmicas em todo mundo. Sites neonazistas ameaçam incendiar lojas que venderem os produtos, enquanto organizações religiosas divulgam campanhas de boicote à Mattel e recomendam que os “membros” dos brinquedos sejam cortados pelos pais na frente dos filhos. No Brasil, a deputada estadual do Rio de Janeiro, Myriam Rios (PDT), já pede a proibição antecipada do produto no estado. “E se eu comprar uma boneca dessas pro meu filho e ela tentar bolinar ele? Eu vou ter que manter a boneca em casa e não vou poder fazer nada?”, questionou.
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Vídeo: Transexualidade no mundo islâmico
Hoje vou deixar "El Cumpleaños", um documentário exibido na TV espanhola que acompanha o dia-a-dia de três transexuais do Irã, um país que surpreendentemente autoriza a realização de cirurgias de transgenitalização e troca do registro. Apesar da falha brutal da produção de dublar as trans MtF com voz masculina e o FtM com voz feminina, o documentário em si foi muito bem montado. Já é meio antigo (foi produzido em 2006), e foi postado no Youtube em 6 partes. Pra quem não entende muito bem espanhol, vou fazer um pequeno resumo.
Atualização de 03/05/2013: o documentário na verdade foi produzido para um canal da Holanda, e não da Espanha, como falei anteriormente; a TVE apenas exibiu o documentário, perdoem o equívoco. Por puro sono, ontem pus apenas links pros vídeos no Youtube, hoje já passei para iframes. Nos comentários de um dos vídeos, se diz que Saye se suicidou, porém não consegui averiguar a veracidade dessa informação.
Parte 1: apresentação de Saye, Mahtab (ambas MtF) e Afshin (FtM). Saye foi expulsa de casa ao assumir a transexualidade e à época do doc vivia com Afshin, e Mahtab vivia com a família bastante tradicionalista; o pai inclusive disse que daria todos os bens para que ela fosse um "homem de verdade".
Parte 2: comemoração do aniversário de Mahtab, que convida seu namorado Mohsen, a contragosto da família. Os dois têm uma conversa sobre a situação dela, que pergunta se ele vai continuar com ela mesmo que a cirurgia que será feita não der certo.
Parte 3: Saye e Afshin acompanham Mahtab em sua última consulta médica antes de realizar a cirurgia de transgenitalização. Um especialista na "sharia", a lei islâmica, explica o porquê de a transexualidade não ser reprimida como a homossexualidade segundo os ensinamentos do Alcorão. Outra transexual fala sobre os estudos que realizou sobre o tema ainda antes de 1979, quando eclodiu a revolução no Irã. Saye mostra as cartas que recebeu de retorno quando pediu orientação para fazer a sua transição.
Parte 4: Mahtab tem uma nova discussão com seus pais, que insistem para que ela desista da ideia de ser mulher. Ela vai para o quarto e mostra sua caixa de lembranças. Saye e Afshin comentam sobre sua vida como casal.
Parte 5: Mahtab se despede de Mohsen e da família para enfrentar a cirurgia de transgenitalização. Vê-se uma certa má vontade do médico em realizar o procedimento, já que ele comenta estar recebendo muito pouco para fazê-lo. Enquanto isso, o irmão de Afshin diz que acha mais fácil aceitar um homem transexual, pois gera menos preocupações no campo familiar.
Parte 6: fim da cirurgia de Mahtab, que vai para a recuperação, mas sai da clínica cirúrgica ainda com dores e dificuldade de locomoção. O médico explica que o Irã virou uma "referência" no assunto transexualidade, pois o processo de retificação de registro civil lá é menos burocrático que no Reino Unido ou na França.
Atualização de 03/05/2013: o documentário na verdade foi produzido para um canal da Holanda, e não da Espanha, como falei anteriormente; a TVE apenas exibiu o documentário, perdoem o equívoco. Por puro sono, ontem pus apenas links pros vídeos no Youtube, hoje já passei para iframes. Nos comentários de um dos vídeos, se diz que Saye se suicidou, porém não consegui averiguar a veracidade dessa informação.
Parte 1: apresentação de Saye, Mahtab (ambas MtF) e Afshin (FtM). Saye foi expulsa de casa ao assumir a transexualidade e à época do doc vivia com Afshin, e Mahtab vivia com a família bastante tradicionalista; o pai inclusive disse que daria todos os bens para que ela fosse um "homem de verdade".
Parte 2: comemoração do aniversário de Mahtab, que convida seu namorado Mohsen, a contragosto da família. Os dois têm uma conversa sobre a situação dela, que pergunta se ele vai continuar com ela mesmo que a cirurgia que será feita não der certo.
Parte 3: Saye e Afshin acompanham Mahtab em sua última consulta médica antes de realizar a cirurgia de transgenitalização. Um especialista na "sharia", a lei islâmica, explica o porquê de a transexualidade não ser reprimida como a homossexualidade segundo os ensinamentos do Alcorão. Outra transexual fala sobre os estudos que realizou sobre o tema ainda antes de 1979, quando eclodiu a revolução no Irã. Saye mostra as cartas que recebeu de retorno quando pediu orientação para fazer a sua transição.
Parte 4: Mahtab tem uma nova discussão com seus pais, que insistem para que ela desista da ideia de ser mulher. Ela vai para o quarto e mostra sua caixa de lembranças. Saye e Afshin comentam sobre sua vida como casal.
Parte 5: Mahtab se despede de Mohsen e da família para enfrentar a cirurgia de transgenitalização. Vê-se uma certa má vontade do médico em realizar o procedimento, já que ele comenta estar recebendo muito pouco para fazê-lo. Enquanto isso, o irmão de Afshin diz que acha mais fácil aceitar um homem transexual, pois gera menos preocupações no campo familiar.
Parte 6: fim da cirurgia de Mahtab, que vai para a recuperação, mas sai da clínica cirúrgica ainda com dores e dificuldade de locomoção. O médico explica que o Irã virou uma "referência" no assunto transexualidade, pois o processo de retificação de registro civil lá é menos burocrático que no Reino Unido ou na França.
domingo, 28 de abril de 2013
Um dia
Acorda.
Toma o remédio da manhã.
Veste-se para sair do apartamento.
Enfrenta o frio congelante.
Entra no mercado.
Vê o que tem.
Não encontra.
Sai do mercado.
Enfrenta novamente o frio.
Entra no outro mercado.
Vê o que tem.
Achou.
Pega o que precisa.
Paga tudo.
Sai para o frio.
Volta para o apartamento.
Liga o microondas.
Come o doce primeiro.
Come o salgado depois.
Abre o computador.
Liga o streaming da TV espanhola.
Descobre que na Península Ibérica está fazendo ainda mais frio.
Fala com pessoas.
Fica com sono.
Dorme.
Dorme.
Dorme.
Acorda de novo.
Ouve músicas.
Canta.
Dança.
Sonha.
Lê um pouco.
Fala com pessoas.
Toma banho.
Arruma-se para a noite.
Põe um salto agulha ao qual ainda está se acostumando.
Sai do apartamento.
Vai comer algo.
Chega à fila imensa da boate.
Entra na boate.
Encontra seu amigo.
Apresenta-se pra galera do seu amigo.
Passa um tempo.
Acha o lugar bacana.
Dança.
Não canta.
Canta um trechinho.
Despede-se.
Anda vagarosamente pela rua.
Chega no apartamento.
Tira imediatamente os sapatos.
Vê a bolha.
Toma o remédio da noite.
Fala com pessoas.
Escreve.
Espera dormir.
Dorme.
Toma o remédio da manhã.
Veste-se para sair do apartamento.
Enfrenta o frio congelante.
Entra no mercado.
Vê o que tem.
Não encontra.
Sai do mercado.
Enfrenta novamente o frio.
Entra no outro mercado.
Vê o que tem.
Achou.
Pega o que precisa.
Paga tudo.
Sai para o frio.
Volta para o apartamento.
Liga o microondas.
Come o doce primeiro.
Come o salgado depois.
Abre o computador.
Liga o streaming da TV espanhola.
Descobre que na Península Ibérica está fazendo ainda mais frio.
Fala com pessoas.
Fica com sono.
Dorme.
Dorme.
Dorme.
Acorda de novo.
Ouve músicas.
Canta.
Dança.
Sonha.
Lê um pouco.
Fala com pessoas.
Toma banho.
Arruma-se para a noite.
Põe um salto agulha ao qual ainda está se acostumando.
Sai do apartamento.
Vai comer algo.
Chega à fila imensa da boate.
Entra na boate.
Encontra seu amigo.
Apresenta-se pra galera do seu amigo.
Passa um tempo.
Acha o lugar bacana.
Dança.
Não canta.
Canta um trechinho.
Despede-se.
Anda vagarosamente pela rua.
Chega no apartamento.
Tira imediatamente os sapatos.
Vê a bolha.
Toma o remédio da noite.
Fala com pessoas.
Escreve.
Espera dormir.
Dorme.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Consumismo e feminilidade
Sobre como uma singela capa de inverno me deixa com um semblante mais feminino. Sem mais.
domingo, 14 de abril de 2013
Vídeo da noite
Sobre como estou me sentindo recentemente...
O medo mora comigo, o medo mora comigo
Mas só o medo, mas só o medo
O medo mora comigo, o medo mora comigo
Mas só o medo, mas só o medo
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Mais esclarecimentos
Hoje é mais uma noite de insônia. Hora de escrever. Mais respostas a alguns questionamentos que quem esteja lendo esse blog possa ter.
1. Sou meio antiquada e conservadora em relação a alguns pontos. Para alguns pode não fazer sentido nenhum, pode ser só uma parte do sentido, pode ser uma ofensa, pode ser algo a ser ferrenhamente condenado, mas para mim o binômio de gênero homem-mulher ainda faz sentido. Não digo com isso que sou complacente com o establishment atual desta divisão, em que um lado do binômio (homem) tenta se impor ao outro (mulher), apenas digo que são duas facetas de gênero equidistantes.
2. Não me sinto uma ativista do meio trans. Me sinto ativista de mim mesma.
3. A terminologia e sua discussão são interessantes para quem quer fazer um estudo profundo, acadêmico, da questão de gênero. Porém de um ponto de vista prático, como faço para explicar a um(a) transgêner@ do tipo mais comum, @ de baixa renda, o que é detalhadamente "cis-heteronormatividade"? Neste caso, prefiro pecar pela falta a pecar pelo excesso.
4. Vocês não me verão colocando um asterisco depois de trans, pois acho um símbolo completamente desnecessário, assim como não vou ficar me identificando como do sexo "x", pois tenho já concebido em minha mente que pertenço ao gênero feminino, ou seja, não sou dual, não fico em cima do muro. Assumi a minha identidade de gênero e como tal vou me identificar.
5. NÃO ME AUTOMEDICO! Faço acompanhamento psiquiátrico e tomo remédios controlados, que afetam o meu organismo, e principalmente os meus níveis hormonais. Após longa espera, dois meses para ser mais exata, comecei a fazer acompanhamento específico para a transexualidade no CRT de São Paulo, e só começarei a me medicar conforme orientação médica adequada. Pode dizer que o SUS demora, mas ele está aí para ser usado.
6. Vou criar vergonha na cara e colocar marcadores nos posts, pra busca ficar mais rápida.
7. Posto uma foto minha sem maquiagem, apenas alguns retoques tecnológicos rsrs Estou num estado de espírito aceitável esta noite.
1. Sou meio antiquada e conservadora em relação a alguns pontos. Para alguns pode não fazer sentido nenhum, pode ser só uma parte do sentido, pode ser uma ofensa, pode ser algo a ser ferrenhamente condenado, mas para mim o binômio de gênero homem-mulher ainda faz sentido. Não digo com isso que sou complacente com o establishment atual desta divisão, em que um lado do binômio (homem) tenta se impor ao outro (mulher), apenas digo que são duas facetas de gênero equidistantes.
2. Não me sinto uma ativista do meio trans. Me sinto ativista de mim mesma.
3. A terminologia e sua discussão são interessantes para quem quer fazer um estudo profundo, acadêmico, da questão de gênero. Porém de um ponto de vista prático, como faço para explicar a um(a) transgêner@ do tipo mais comum, @ de baixa renda, o que é detalhadamente "cis-heteronormatividade"? Neste caso, prefiro pecar pela falta a pecar pelo excesso.
4. Vocês não me verão colocando um asterisco depois de trans, pois acho um símbolo completamente desnecessário, assim como não vou ficar me identificando como do sexo "x", pois tenho já concebido em minha mente que pertenço ao gênero feminino, ou seja, não sou dual, não fico em cima do muro. Assumi a minha identidade de gênero e como tal vou me identificar.
5. NÃO ME AUTOMEDICO! Faço acompanhamento psiquiátrico e tomo remédios controlados, que afetam o meu organismo, e principalmente os meus níveis hormonais. Após longa espera, dois meses para ser mais exata, comecei a fazer acompanhamento específico para a transexualidade no CRT de São Paulo, e só começarei a me medicar conforme orientação médica adequada. Pode dizer que o SUS demora, mas ele está aí para ser usado.
6. Vou criar vergonha na cara e colocar marcadores nos posts, pra busca ficar mais rápida.
7. Posto uma foto minha sem maquiagem, apenas alguns retoques tecnológicos rsrs Estou num estado de espírito aceitável esta noite.
sexta-feira, 5 de abril de 2013
É, não foi dessa vez, Marina!
Blogs de trans sempre têm números. É deles que vou falar hoje.
Voltei do ambulatório de trans com um certo inconformismo. Vou explicar: nada de terapia hormonal por enquanto! Estou desregulada. Estou triste.
Fui pegar o resultado da dezena de exames que tinha feito no mês passado, e os números foram surpreendentes. A médica chegou a me perguntar se eu realmente nunca tinha tomado anticoncepcional, porque o meu hormônio feminino simplesmente estava acima do normal. Deve ser psíquico, não sei. Não vou citar todos os resultados, pq está praticamente tudo ok, só os anormais.
O estradiol deu 49,80. O normal para homens é 11 a 44.
A prolactina deu 35,74. O normal para homens é 3,46 a 19,4 e para mulheres não grávidas é 5,18 a 26,53. Provavelmente efeito da risperidona que eu tomo, um medo que eu já havia declarado aqui.
O TSH (hormônio tireoestimulante) então, está lá no alto: 12,46. O normal é 0,35 a 4,94.
Agora vou depender da análise do meu caso pela endocrinologista e do que a psiquiatra vai interpretar desses exames.
Só fiquei um pouco feliz que a médica me disse que minhas feições faciais já são bem femininas e não precisaria de tanta intervenção cirúrgica como eu estava pensando. Só o pomo-de-adão mesmo, que é fundamental raspar.
Este post é atípico. Estou atípica.
Acabo de acordar
Depois de um dia em que quase surtei, chorei muito, e demorei a dormir. Chorei com a dor de estar sempre em crise, de depender de reações fármaco-químicas para me manter viva. Viva e automática.
Deixar de pensar, deixar de ter sonhos. Viver apenas por viver. Viver incompreendida.
A dor de não ter sucesso em um mísero pleito por dignidade. De saber que jamais terei um atendimento de gente no SUS. Que serei só suportada. Que serei achincalhada em minha individualidade. Que um psiquiatra insensível vai me olhar com cara de paisagem e dizer pra voltar pra casa porque estou fazendo-o perder tempo com minhas crises e minhas queixas.
A dor de cabeça. Cabeça que pensa mil coisas por minuto. Que pensa no trabalho que você deixa acumulado e que depois não está porque repassaram. Repassaram porque algum outro e não você repassou. Porque no fundo eu não sou lá tão considerada. Porque no fundo eu não mereço nenhum respeito.
A dor. A dor que me acompanha e me acompanhará sempre. Pelo simples delito que cometi de ter resolvido nascer e viver.
Deixar de pensar, deixar de ter sonhos. Viver apenas por viver. Viver incompreendida.
A dor de não ter sucesso em um mísero pleito por dignidade. De saber que jamais terei um atendimento de gente no SUS. Que serei só suportada. Que serei achincalhada em minha individualidade. Que um psiquiatra insensível vai me olhar com cara de paisagem e dizer pra voltar pra casa porque estou fazendo-o perder tempo com minhas crises e minhas queixas.
A dor de cabeça. Cabeça que pensa mil coisas por minuto. Que pensa no trabalho que você deixa acumulado e que depois não está porque repassaram. Repassaram porque algum outro e não você repassou. Porque no fundo eu não sou lá tão considerada. Porque no fundo eu não mereço nenhum respeito.
A dor. A dor que me acompanha e me acompanhará sempre. Pelo simples delito que cometi de ter resolvido nascer e viver.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Perguntas e respostas sobre a Lei João Nery (não-oficial)
Enfim, falarei novamente sobre o PL 5002/13 (Lei João Nery), que trata da identidade de gênero e da mudança do nome por travestis e transexuais. É um pequeno "perguntas e respostas" que acredito que vá ajudar. Quem já conhece a terminologia transgênera, vai achar um tanto raso, porém prefiro ser rasa e didática a ser detalhada e incompreensível.
O que essa lei muda para mim que sou heterossexual? Absolutamente nada! Isso mesmo, nada. Você que tem pênis, se vê como homem, e sente atração por mulher, não tem motivo nenhum para querer ter outra identidade de gênero e mudar de nome. A mesma coisa serve para você que tem vagina, se vê como mulher, e sente atração por homem; você nasceu Maria, se sente Maria, e não vai querer deixar de sentir atração por Antônio, querer uma Roberta, e virar Mateus só porque uma lei te dá um direito a isso.
O que essa lei muda para mim que sou homo/bissexual? Também nada. Vamos lembrar que a lei trata de gênero e não de sexualidade. Não é porque Júlio é gay ou bi que ele vai dormir e amanhã vai acordar com vontade de ser Alzinete. Transgeneridade é algo muito mais complexo e envolve necessidades e não vontades.
O que essa lei muda para mim que sou transexual? Tudo! Evita o transtorno que é abrir uma demanda judicial para simplesmente mudar o nome após a realização da cirurgia, bastando fazer a alteração no cartório. Facilita a vida de quem ainda está na fila da cirurgia, ou que ainda está se decidindo por fazê-la (vamos lembrar que é um procedimento caro e complicado), livrando-se de toda uma série de constrangimentos.
O que essa lei muda para mim que sou travesti? Mais que tudo! Gera um mínimo de dignidade, ainda que apenas jurídica. Evita humilhações e discriminações baseadas no sexo. Gera empoderamento, pois você que nasceu Sandro e se vê como Bianca não terá mais vergonha de se apresentar ao mundo. Abre possibilidades para quem largou os bancos escolares porque não suportou a pressão de um mundo preconceituoso.
Dê um exemplo de como essa lei beneficiará um(a) travesti/transexual. Já tentou retificar nome na carta de motorista, por erro no documento ou por inclusão de sobrenome? Pois é, esse procedimento já é quase impossível em algumas cidades devido à burocracia do Detran, imagine se chega uma pessoa, personificada como Gustavo, chega, apresenta os documentos e o funcionário do Detran vê lá, estampado na identidade: Joana. Vai provavelmente ser alvo de chacota da repartição. A retificação do registro civil vai evitar situações constrangedoras como esta.
Menores de idade poderão pedir a retificação do registro civil com baste nessa lei? Sim, com o consentimento dos pais e expressa conformidade da vontade da criança ou adolescente. A lei determina que nesse caso haverá também assistência da Defensoria Pública.
Retificar o registro civil é um processo fácil? Não. Significa que toda a sua vida civil passará a girar em torno de um novo nome, o que implica em mudar não só a certidão de nascimento como a identidade, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho, diplomas escolares e acadêmicos, carteira de motorista, passaporte etc.
Ganha-se ou perde-se algum direito retificando o registro civil? Nem um nem outro. Todos os bens e direitos que estão em sua propriedade serão mantidos em sua propriedade, assim como o casamento mantido, se assim solicitado, e eventual paternidade ou maternidade continuará constando do registro civil de seus filhos.
As perguntas e respostas foram formuladas de acordo com observações pessoais e também com o texto do projeto de lei. Se tiverem mais alguma dúvida, por favor, perguntem, que procurarei responder.
O que essa lei muda para mim que sou heterossexual? Absolutamente nada! Isso mesmo, nada. Você que tem pênis, se vê como homem, e sente atração por mulher, não tem motivo nenhum para querer ter outra identidade de gênero e mudar de nome. A mesma coisa serve para você que tem vagina, se vê como mulher, e sente atração por homem; você nasceu Maria, se sente Maria, e não vai querer deixar de sentir atração por Antônio, querer uma Roberta, e virar Mateus só porque uma lei te dá um direito a isso.
O que essa lei muda para mim que sou homo/bissexual? Também nada. Vamos lembrar que a lei trata de gênero e não de sexualidade. Não é porque Júlio é gay ou bi que ele vai dormir e amanhã vai acordar com vontade de ser Alzinete. Transgeneridade é algo muito mais complexo e envolve necessidades e não vontades.
O que essa lei muda para mim que sou transexual? Tudo! Evita o transtorno que é abrir uma demanda judicial para simplesmente mudar o nome após a realização da cirurgia, bastando fazer a alteração no cartório. Facilita a vida de quem ainda está na fila da cirurgia, ou que ainda está se decidindo por fazê-la (vamos lembrar que é um procedimento caro e complicado), livrando-se de toda uma série de constrangimentos.
O que essa lei muda para mim que sou travesti? Mais que tudo! Gera um mínimo de dignidade, ainda que apenas jurídica. Evita humilhações e discriminações baseadas no sexo. Gera empoderamento, pois você que nasceu Sandro e se vê como Bianca não terá mais vergonha de se apresentar ao mundo. Abre possibilidades para quem largou os bancos escolares porque não suportou a pressão de um mundo preconceituoso.
Dê um exemplo de como essa lei beneficiará um(a) travesti/transexual. Já tentou retificar nome na carta de motorista, por erro no documento ou por inclusão de sobrenome? Pois é, esse procedimento já é quase impossível em algumas cidades devido à burocracia do Detran, imagine se chega uma pessoa, personificada como Gustavo, chega, apresenta os documentos e o funcionário do Detran vê lá, estampado na identidade: Joana. Vai provavelmente ser alvo de chacota da repartição. A retificação do registro civil vai evitar situações constrangedoras como esta.
Menores de idade poderão pedir a retificação do registro civil com baste nessa lei? Sim, com o consentimento dos pais e expressa conformidade da vontade da criança ou adolescente. A lei determina que nesse caso haverá também assistência da Defensoria Pública.
Retificar o registro civil é um processo fácil? Não. Significa que toda a sua vida civil passará a girar em torno de um novo nome, o que implica em mudar não só a certidão de nascimento como a identidade, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho, diplomas escolares e acadêmicos, carteira de motorista, passaporte etc.
Ganha-se ou perde-se algum direito retificando o registro civil? Nem um nem outro. Todos os bens e direitos que estão em sua propriedade serão mantidos em sua propriedade, assim como o casamento mantido, se assim solicitado, e eventual paternidade ou maternidade continuará constando do registro civil de seus filhos.
As perguntas e respostas foram formuladas de acordo com observações pessoais e também com o texto do projeto de lei. Se tiverem mais alguma dúvida, por favor, perguntem, que procurarei responder.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Vídeo da noite
Porque isso não torna seu lugar seguro na minha cama...
"In my bed" da eterna Amy Winehouse para uma noite mais relaxante.
É algo que eu sei que você não pode fazer:
Separar sexo de emoção
Eu durmo sozinha, o sol nasce
Você ainda está se agarrando àquela noção!
Tudo está desacelerando
Rio que corre sem volta
Reconhece todos os meus sons
Não há nada novo para aprender.
"In my bed" da eterna Amy Winehouse para uma noite mais relaxante.
É algo que eu sei que você não pode fazer:
Separar sexo de emoção
Eu durmo sozinha, o sol nasce
Você ainda está se agarrando àquela noção!
Tudo está desacelerando
Rio que corre sem volta
Reconhece todos os meus sons
Não há nada novo para aprender.
quinta-feira, 28 de março de 2013
Direito e transexualidade: mais um texto
Em minha busca por literatura especializada, achei esse texto, que trata da mudança de nome e sexo no registro de transexuais que passaram pela cirurgia, sob uma visão do Direito. Elucidante o texto de análise e brilhante o relatório da ação.
Diferenças
Como comentei com o Laerte: de "animal" para "social" basta trocar quatro letras.
Foto: Cecília Levenstein
quarta-feira, 27 de março de 2013
Vou tentando
Tentando não me irritar com pessoas que disseram que já viveram tudo e mais um pouco e acham que isso as torna superiores intelectualmente ou psico-hierarquicamente às demais. Tentando não fazer com que comentários irônicos dessas pessoas façam meu sangue subir. Tentando expressar-me da forma como creio que devo expressar-me e ser claramente compreendida.
terça-feira, 26 de março de 2013
Vídeo da noite
Paris em preto-e-branco, como parte da alma de cada um.
Se, mamãe, se
Mamãe, se você visse minha vida!
Eu choro como eu rio
Mas meu futuro continua cinzento
E meu coração também!
Se, mamãe, se
Mamãe, se você visse minha vida!
Eu choro como eu rio
Mas meu futuro continua cinzento
E meu coração também!
PL João Nery: vale a pena ler!
Hoje estou sem a mínima paciência de escrever ou de fazer coisa alguma, mas deixarei um texto interessante. É o PL 5002/13, também conhecido como Lei João Nery, de autoria dos deputados Jean Wyllys (PSOL/RJ) e Érika Kokay (PT/DF), conhecidos na luta pelo reconhecimento dos direitos humanos e das minorias no Brasil. Vale a pena ler o projeto, baseado na lei similar que foi aprovada na Argentina (sim, até a Argentina está mais avançada em relação às questões de gênero), a justificativa, e vale a pena se mobilizar para que o Congresso aprove o projeto.
PS: Faz tempo que não posto vídeo, mas é por pura preguiça. Posto um agora.
PS: Faz tempo que não posto vídeo, mas é por pura preguiça. Posto um agora.
segunda-feira, 25 de março de 2013
O engodo do nome social
Há alguns posts atrás, falei do requerimento de uso de nome social que fiz no meu órgão. Hoje tive uma longa e produtiva conversa com o gerente de pessoal, para saber a quantas anda o meu processo. Há uma providência que está sendo tomada pela informática e em breve terei meu e-mail trocado. Mas tive uma sólida constatação: A PORTARIA 233/2010/MPOG NÃO GARANTE NADA!
Não garante que você, que ganhe responsabilidades, possa exercê-las com segurança de si própria, pois o nome que está ali é só "uma fantasia". Não garante que você, que passou anos lutando por uma reputação e que agora sentiu-se segura para assumir o seu verdadeiro eu, assuma-o plenamente no ambiente de trabalho, só em algumas coisinhas.
Não garante que você, que tem um nome na identidade e outro na vida real, possa trabalhar com um mínimo de respeito. Não garante que você, que tem "nome social", tenha um sobrenome também, pois o campo só aceita nome, ou seja, você será sempre uma coisa enquanto estiver numa condição de transgeneridade. Uma farsa. Uma maquiagem. Um crime.
Não garante que você, que pretensamente ganhou "um direito", possa fazê-lo sem passar pelo crivo da burocracia, que estanca sua personalidade, sua individualidade. Não garante que você, que tem objetivos profissionais e apoio emocional no seu ambiente, possa concretizá-los pois seu "direito" é só "pra isso e pra aquilo".
Como se diz em linguagem jurídica, "É o relatório".
Não garante que você, que ganhe responsabilidades, possa exercê-las com segurança de si própria, pois o nome que está ali é só "uma fantasia". Não garante que você, que passou anos lutando por uma reputação e que agora sentiu-se segura para assumir o seu verdadeiro eu, assuma-o plenamente no ambiente de trabalho, só em algumas coisinhas.
Não garante que você, que tem um nome na identidade e outro na vida real, possa trabalhar com um mínimo de respeito. Não garante que você, que tem "nome social", tenha um sobrenome também, pois o campo só aceita nome, ou seja, você será sempre uma coisa enquanto estiver numa condição de transgeneridade. Uma farsa. Uma maquiagem. Um crime.
Não garante que você, que pretensamente ganhou "um direito", possa fazê-lo sem passar pelo crivo da burocracia, que estanca sua personalidade, sua individualidade. Não garante que você, que tem objetivos profissionais e apoio emocional no seu ambiente, possa concretizá-los pois seu "direito" é só "pra isso e pra aquilo".
Como se diz em linguagem jurídica, "É o relatório".
domingo, 24 de março de 2013
Me sinto falocrática
Quando admito que deve existir sim uma separação entre o banheiro masculino e o feminino, pela identidade de gênero da pessoa, e que essa separação deve ser respeitada. Quando admito que o L e o G sempre vão estar procurando formas de se guetizar, para se proteger, sei lá, e que o T continuará tão deslocado que vai se guetizar ainda mais. Quando admito para mim mesma que o binômio homem-mulher vai continuar martelando em nossas cabeças, e que os meios-termos ficarão por aí, vagando no limbo. Constatações de uma noite pensante.
terça-feira, 19 de março de 2013
Crises
Minhas crises depressivas andam voltando. Estou com medo. Bastante medo.
De sair na rua. De pensar no julgamento dos outros. Será que estou bem?
De chegar no trabalho. De pensar no respeito dos outros. Será que ainda tenho alguma consideração?
De me encontrar com meus amigos. De pensar no pensamento deles. Será que sou normal?
A depressão é uma doença de etiologia social.
Entendê-la é um processo de ordem psicossocial.
Extirpá-la é um processo de ordem sociopolítica.
De sair na rua. De pensar no julgamento dos outros. Será que estou bem?
De chegar no trabalho. De pensar no respeito dos outros. Será que ainda tenho alguma consideração?
De me encontrar com meus amigos. De pensar no pensamento deles. Será que sou normal?
A depressão é uma doença de etiologia social.
Entendê-la é um processo de ordem psicossocial.
Extirpá-la é um processo de ordem sociopolítica.
sábado, 16 de março de 2013
Fora Feliciano: segundo ato
Mais uma vez São Paulo teve uma passeata contra a nomeação deste crápula chamado Marco Feliciano. Parecia ter menos gente que na semana passada, mas o barulho foi semelhante.
Bem atrevida essa cena. Foram pra porta da Universal (nem sabia que tinha Universal aqui na região do centro) e levaram as faixas de protesto pra lá.
Foto: Leonardo Define
Bem atrevida essa cena. Foram pra porta da Universal (nem sabia que tinha Universal aqui na região do centro) e levaram as faixas de protesto pra lá.
Foto: um rapaz que não perguntei o nome rs
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