Deveria ser mais ativista em prol da minha causa? Acredito que sim. Posso começar a falar uma série de bobagens a partir de agora, então fiquem à vontade para parar de ler.
Tem vezes em que penso sobre isso, sobre todo esse universo não-heterossexual, não-cis, trans, LGBT, ou qualquer outra denominação que se dê a qualquer movimento do tipo, e imagino: "Que saco!" Uma Constituição que dá garantias, e eu tendo que mendigar direitos adquiridos, como se estivesse pedindo um favor? Que tipo de país é esse?
Somos apenas pedaços de carne que devem aceitar caladinh@s a nossa pretensa "não-naturalidade"? Creio que não.
Estou agora aqui, numa grande dúvida sobre se devo ir mais longe numa contenda chata que está acontecendo no meu trabalho. Há quatro meses, alguns dias depois da concretização da minha transformação, entrei com processo administrativo (sou servidora pública) pedindo a alteração do meu nome social nos registros do órgão (situação também garantida).
O que se sucedeu foi uma série de despautérios baseados no puro ódio e preconceito. Ao invés de simplesmente enviar o meu requerimento, totalmente embasado, com cópia e tudo da portaria, para as providências necessárias, enviaram questionamentos ridículos sobre o uso do banheiro, como se isso fosse algo de calamidade. Ora, se adentrei num recinto com uma roupa feminina e exalo uma natureza feminina (aliás, desde a minha transformação só faço tentar aperfeiçoar e deixar marcante a minha natureza feminina), é óbvio que não vou querer usar o banheiro masculino.
Acredito que um órgão público, um lugar de pessoas que precisaram de um mínimo de estudo e senso crítico para serem admitidas, e como representação de um serviço à sociedade contribuinte e votante, deva ser o primeiro lugar a abrir uma frente de pensamento voltado a novos questionamentos que venham a surgir no convívio social. Mas o que vi a respeito do meu processo foi uma série de incoerências que não têm base sequer no Direito.
Como a maliciosa recomendação da procuradoria do órgão de "manter conduta compatível com a moralidade administrativa" sob pena de ferir o Estatuto. Ora, trabalhei mais de três anos no RH do órgão, e conheço de cabo a rabo o Estatuto, e só porque agora me visto de mulher, vou jogá-lo no lixo e agir como se a minha cabeça fosse uma entidade errante, sem valores éticos? Me poupe!
Conseguimos direitos, sim. Tenho sorte de estar num setor do órgão onde me respeitam e valorizam o meu trabalho, independente de eu estar de calça ou de saiote. Mas esses direitos ainda não são vistos por cabeças mesquinhas e maliciosas.
São alguns pensamentos que me vieram à cabeça nessa noite sem sono.
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