Acorda.
Toma o remédio da manhã.
Veste-se para sair do apartamento.
Enfrenta o frio congelante.
Entra no mercado.
Vê o que tem.
Não encontra.
Sai do mercado.
Enfrenta novamente o frio.
Entra no outro mercado.
Vê o que tem.
Achou.
Pega o que precisa.
Paga tudo.
Sai para o frio.
Volta para o apartamento.
Liga o microondas.
Come o doce primeiro.
Come o salgado depois.
Abre o computador.
Liga o streaming da TV espanhola.
Descobre que na Península Ibérica está fazendo ainda mais frio.
Fala com pessoas.
Fica com sono.
Dorme.
Dorme.
Dorme.
Acorda de novo.
Ouve músicas.
Canta.
Dança.
Sonha.
Lê um pouco.
Fala com pessoas.
Toma banho.
Arruma-se para a noite.
Põe um salto agulha ao qual ainda está se acostumando.
Sai do apartamento.
Vai comer algo.
Chega à fila imensa da boate.
Entra na boate.
Encontra seu amigo.
Apresenta-se pra galera do seu amigo.
Passa um tempo.
Acha o lugar bacana.
Dança.
Não canta.
Canta um trechinho.
Despede-se.
Anda vagarosamente pela rua.
Chega no apartamento.
Tira imediatamente os sapatos.
Vê a bolha.
Toma o remédio da noite.
Fala com pessoas.
Escreve.
Espera dormir.
Dorme.
domingo, 28 de abril de 2013
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Consumismo e feminilidade
Sobre como uma singela capa de inverno me deixa com um semblante mais feminino. Sem mais.
domingo, 14 de abril de 2013
Vídeo da noite
Sobre como estou me sentindo recentemente...
O medo mora comigo, o medo mora comigo
Mas só o medo, mas só o medo
O medo mora comigo, o medo mora comigo
Mas só o medo, mas só o medo
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Mais esclarecimentos
Hoje é mais uma noite de insônia. Hora de escrever. Mais respostas a alguns questionamentos que quem esteja lendo esse blog possa ter.
1. Sou meio antiquada e conservadora em relação a alguns pontos. Para alguns pode não fazer sentido nenhum, pode ser só uma parte do sentido, pode ser uma ofensa, pode ser algo a ser ferrenhamente condenado, mas para mim o binômio de gênero homem-mulher ainda faz sentido. Não digo com isso que sou complacente com o establishment atual desta divisão, em que um lado do binômio (homem) tenta se impor ao outro (mulher), apenas digo que são duas facetas de gênero equidistantes.
2. Não me sinto uma ativista do meio trans. Me sinto ativista de mim mesma.
3. A terminologia e sua discussão são interessantes para quem quer fazer um estudo profundo, acadêmico, da questão de gênero. Porém de um ponto de vista prático, como faço para explicar a um(a) transgêner@ do tipo mais comum, @ de baixa renda, o que é detalhadamente "cis-heteronormatividade"? Neste caso, prefiro pecar pela falta a pecar pelo excesso.
4. Vocês não me verão colocando um asterisco depois de trans, pois acho um símbolo completamente desnecessário, assim como não vou ficar me identificando como do sexo "x", pois tenho já concebido em minha mente que pertenço ao gênero feminino, ou seja, não sou dual, não fico em cima do muro. Assumi a minha identidade de gênero e como tal vou me identificar.
5. NÃO ME AUTOMEDICO! Faço acompanhamento psiquiátrico e tomo remédios controlados, que afetam o meu organismo, e principalmente os meus níveis hormonais. Após longa espera, dois meses para ser mais exata, comecei a fazer acompanhamento específico para a transexualidade no CRT de São Paulo, e só começarei a me medicar conforme orientação médica adequada. Pode dizer que o SUS demora, mas ele está aí para ser usado.
6. Vou criar vergonha na cara e colocar marcadores nos posts, pra busca ficar mais rápida.
7. Posto uma foto minha sem maquiagem, apenas alguns retoques tecnológicos rsrs Estou num estado de espírito aceitável esta noite.
1. Sou meio antiquada e conservadora em relação a alguns pontos. Para alguns pode não fazer sentido nenhum, pode ser só uma parte do sentido, pode ser uma ofensa, pode ser algo a ser ferrenhamente condenado, mas para mim o binômio de gênero homem-mulher ainda faz sentido. Não digo com isso que sou complacente com o establishment atual desta divisão, em que um lado do binômio (homem) tenta se impor ao outro (mulher), apenas digo que são duas facetas de gênero equidistantes.
2. Não me sinto uma ativista do meio trans. Me sinto ativista de mim mesma.
3. A terminologia e sua discussão são interessantes para quem quer fazer um estudo profundo, acadêmico, da questão de gênero. Porém de um ponto de vista prático, como faço para explicar a um(a) transgêner@ do tipo mais comum, @ de baixa renda, o que é detalhadamente "cis-heteronormatividade"? Neste caso, prefiro pecar pela falta a pecar pelo excesso.
4. Vocês não me verão colocando um asterisco depois de trans, pois acho um símbolo completamente desnecessário, assim como não vou ficar me identificando como do sexo "x", pois tenho já concebido em minha mente que pertenço ao gênero feminino, ou seja, não sou dual, não fico em cima do muro. Assumi a minha identidade de gênero e como tal vou me identificar.
5. NÃO ME AUTOMEDICO! Faço acompanhamento psiquiátrico e tomo remédios controlados, que afetam o meu organismo, e principalmente os meus níveis hormonais. Após longa espera, dois meses para ser mais exata, comecei a fazer acompanhamento específico para a transexualidade no CRT de São Paulo, e só começarei a me medicar conforme orientação médica adequada. Pode dizer que o SUS demora, mas ele está aí para ser usado.
6. Vou criar vergonha na cara e colocar marcadores nos posts, pra busca ficar mais rápida.
7. Posto uma foto minha sem maquiagem, apenas alguns retoques tecnológicos rsrs Estou num estado de espírito aceitável esta noite.
sexta-feira, 5 de abril de 2013
É, não foi dessa vez, Marina!
Blogs de trans sempre têm números. É deles que vou falar hoje.
Voltei do ambulatório de trans com um certo inconformismo. Vou explicar: nada de terapia hormonal por enquanto! Estou desregulada. Estou triste.
Fui pegar o resultado da dezena de exames que tinha feito no mês passado, e os números foram surpreendentes. A médica chegou a me perguntar se eu realmente nunca tinha tomado anticoncepcional, porque o meu hormônio feminino simplesmente estava acima do normal. Deve ser psíquico, não sei. Não vou citar todos os resultados, pq está praticamente tudo ok, só os anormais.
O estradiol deu 49,80. O normal para homens é 11 a 44.
A prolactina deu 35,74. O normal para homens é 3,46 a 19,4 e para mulheres não grávidas é 5,18 a 26,53. Provavelmente efeito da risperidona que eu tomo, um medo que eu já havia declarado aqui.
O TSH (hormônio tireoestimulante) então, está lá no alto: 12,46. O normal é 0,35 a 4,94.
Agora vou depender da análise do meu caso pela endocrinologista e do que a psiquiatra vai interpretar desses exames.
Só fiquei um pouco feliz que a médica me disse que minhas feições faciais já são bem femininas e não precisaria de tanta intervenção cirúrgica como eu estava pensando. Só o pomo-de-adão mesmo, que é fundamental raspar.
Este post é atípico. Estou atípica.
Acabo de acordar
Depois de um dia em que quase surtei, chorei muito, e demorei a dormir. Chorei com a dor de estar sempre em crise, de depender de reações fármaco-químicas para me manter viva. Viva e automática.
Deixar de pensar, deixar de ter sonhos. Viver apenas por viver. Viver incompreendida.
A dor de não ter sucesso em um mísero pleito por dignidade. De saber que jamais terei um atendimento de gente no SUS. Que serei só suportada. Que serei achincalhada em minha individualidade. Que um psiquiatra insensível vai me olhar com cara de paisagem e dizer pra voltar pra casa porque estou fazendo-o perder tempo com minhas crises e minhas queixas.
A dor de cabeça. Cabeça que pensa mil coisas por minuto. Que pensa no trabalho que você deixa acumulado e que depois não está porque repassaram. Repassaram porque algum outro e não você repassou. Porque no fundo eu não sou lá tão considerada. Porque no fundo eu não mereço nenhum respeito.
A dor. A dor que me acompanha e me acompanhará sempre. Pelo simples delito que cometi de ter resolvido nascer e viver.
Deixar de pensar, deixar de ter sonhos. Viver apenas por viver. Viver incompreendida.
A dor de não ter sucesso em um mísero pleito por dignidade. De saber que jamais terei um atendimento de gente no SUS. Que serei só suportada. Que serei achincalhada em minha individualidade. Que um psiquiatra insensível vai me olhar com cara de paisagem e dizer pra voltar pra casa porque estou fazendo-o perder tempo com minhas crises e minhas queixas.
A dor de cabeça. Cabeça que pensa mil coisas por minuto. Que pensa no trabalho que você deixa acumulado e que depois não está porque repassaram. Repassaram porque algum outro e não você repassou. Porque no fundo eu não sou lá tão considerada. Porque no fundo eu não mereço nenhum respeito.
A dor. A dor que me acompanha e me acompanhará sempre. Pelo simples delito que cometi de ter resolvido nascer e viver.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Perguntas e respostas sobre a Lei João Nery (não-oficial)
Enfim, falarei novamente sobre o PL 5002/13 (Lei João Nery), que trata da identidade de gênero e da mudança do nome por travestis e transexuais. É um pequeno "perguntas e respostas" que acredito que vá ajudar. Quem já conhece a terminologia transgênera, vai achar um tanto raso, porém prefiro ser rasa e didática a ser detalhada e incompreensível.
O que essa lei muda para mim que sou heterossexual? Absolutamente nada! Isso mesmo, nada. Você que tem pênis, se vê como homem, e sente atração por mulher, não tem motivo nenhum para querer ter outra identidade de gênero e mudar de nome. A mesma coisa serve para você que tem vagina, se vê como mulher, e sente atração por homem; você nasceu Maria, se sente Maria, e não vai querer deixar de sentir atração por Antônio, querer uma Roberta, e virar Mateus só porque uma lei te dá um direito a isso.
O que essa lei muda para mim que sou homo/bissexual? Também nada. Vamos lembrar que a lei trata de gênero e não de sexualidade. Não é porque Júlio é gay ou bi que ele vai dormir e amanhã vai acordar com vontade de ser Alzinete. Transgeneridade é algo muito mais complexo e envolve necessidades e não vontades.
O que essa lei muda para mim que sou transexual? Tudo! Evita o transtorno que é abrir uma demanda judicial para simplesmente mudar o nome após a realização da cirurgia, bastando fazer a alteração no cartório. Facilita a vida de quem ainda está na fila da cirurgia, ou que ainda está se decidindo por fazê-la (vamos lembrar que é um procedimento caro e complicado), livrando-se de toda uma série de constrangimentos.
O que essa lei muda para mim que sou travesti? Mais que tudo! Gera um mínimo de dignidade, ainda que apenas jurídica. Evita humilhações e discriminações baseadas no sexo. Gera empoderamento, pois você que nasceu Sandro e se vê como Bianca não terá mais vergonha de se apresentar ao mundo. Abre possibilidades para quem largou os bancos escolares porque não suportou a pressão de um mundo preconceituoso.
Dê um exemplo de como essa lei beneficiará um(a) travesti/transexual. Já tentou retificar nome na carta de motorista, por erro no documento ou por inclusão de sobrenome? Pois é, esse procedimento já é quase impossível em algumas cidades devido à burocracia do Detran, imagine se chega uma pessoa, personificada como Gustavo, chega, apresenta os documentos e o funcionário do Detran vê lá, estampado na identidade: Joana. Vai provavelmente ser alvo de chacota da repartição. A retificação do registro civil vai evitar situações constrangedoras como esta.
Menores de idade poderão pedir a retificação do registro civil com baste nessa lei? Sim, com o consentimento dos pais e expressa conformidade da vontade da criança ou adolescente. A lei determina que nesse caso haverá também assistência da Defensoria Pública.
Retificar o registro civil é um processo fácil? Não. Significa que toda a sua vida civil passará a girar em torno de um novo nome, o que implica em mudar não só a certidão de nascimento como a identidade, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho, diplomas escolares e acadêmicos, carteira de motorista, passaporte etc.
Ganha-se ou perde-se algum direito retificando o registro civil? Nem um nem outro. Todos os bens e direitos que estão em sua propriedade serão mantidos em sua propriedade, assim como o casamento mantido, se assim solicitado, e eventual paternidade ou maternidade continuará constando do registro civil de seus filhos.
As perguntas e respostas foram formuladas de acordo com observações pessoais e também com o texto do projeto de lei. Se tiverem mais alguma dúvida, por favor, perguntem, que procurarei responder.
O que essa lei muda para mim que sou heterossexual? Absolutamente nada! Isso mesmo, nada. Você que tem pênis, se vê como homem, e sente atração por mulher, não tem motivo nenhum para querer ter outra identidade de gênero e mudar de nome. A mesma coisa serve para você que tem vagina, se vê como mulher, e sente atração por homem; você nasceu Maria, se sente Maria, e não vai querer deixar de sentir atração por Antônio, querer uma Roberta, e virar Mateus só porque uma lei te dá um direito a isso.
O que essa lei muda para mim que sou homo/bissexual? Também nada. Vamos lembrar que a lei trata de gênero e não de sexualidade. Não é porque Júlio é gay ou bi que ele vai dormir e amanhã vai acordar com vontade de ser Alzinete. Transgeneridade é algo muito mais complexo e envolve necessidades e não vontades.
O que essa lei muda para mim que sou transexual? Tudo! Evita o transtorno que é abrir uma demanda judicial para simplesmente mudar o nome após a realização da cirurgia, bastando fazer a alteração no cartório. Facilita a vida de quem ainda está na fila da cirurgia, ou que ainda está se decidindo por fazê-la (vamos lembrar que é um procedimento caro e complicado), livrando-se de toda uma série de constrangimentos.
O que essa lei muda para mim que sou travesti? Mais que tudo! Gera um mínimo de dignidade, ainda que apenas jurídica. Evita humilhações e discriminações baseadas no sexo. Gera empoderamento, pois você que nasceu Sandro e se vê como Bianca não terá mais vergonha de se apresentar ao mundo. Abre possibilidades para quem largou os bancos escolares porque não suportou a pressão de um mundo preconceituoso.
Dê um exemplo de como essa lei beneficiará um(a) travesti/transexual. Já tentou retificar nome na carta de motorista, por erro no documento ou por inclusão de sobrenome? Pois é, esse procedimento já é quase impossível em algumas cidades devido à burocracia do Detran, imagine se chega uma pessoa, personificada como Gustavo, chega, apresenta os documentos e o funcionário do Detran vê lá, estampado na identidade: Joana. Vai provavelmente ser alvo de chacota da repartição. A retificação do registro civil vai evitar situações constrangedoras como esta.
Menores de idade poderão pedir a retificação do registro civil com baste nessa lei? Sim, com o consentimento dos pais e expressa conformidade da vontade da criança ou adolescente. A lei determina que nesse caso haverá também assistência da Defensoria Pública.
Retificar o registro civil é um processo fácil? Não. Significa que toda a sua vida civil passará a girar em torno de um novo nome, o que implica em mudar não só a certidão de nascimento como a identidade, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho, diplomas escolares e acadêmicos, carteira de motorista, passaporte etc.
Ganha-se ou perde-se algum direito retificando o registro civil? Nem um nem outro. Todos os bens e direitos que estão em sua propriedade serão mantidos em sua propriedade, assim como o casamento mantido, se assim solicitado, e eventual paternidade ou maternidade continuará constando do registro civil de seus filhos.
As perguntas e respostas foram formuladas de acordo com observações pessoais e também com o texto do projeto de lei. Se tiverem mais alguma dúvida, por favor, perguntem, que procurarei responder.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Vídeo da noite
Porque isso não torna seu lugar seguro na minha cama...
"In my bed" da eterna Amy Winehouse para uma noite mais relaxante.
É algo que eu sei que você não pode fazer:
Separar sexo de emoção
Eu durmo sozinha, o sol nasce
Você ainda está se agarrando àquela noção!
Tudo está desacelerando
Rio que corre sem volta
Reconhece todos os meus sons
Não há nada novo para aprender.
"In my bed" da eterna Amy Winehouse para uma noite mais relaxante.
É algo que eu sei que você não pode fazer:
Separar sexo de emoção
Eu durmo sozinha, o sol nasce
Você ainda está se agarrando àquela noção!
Tudo está desacelerando
Rio que corre sem volta
Reconhece todos os meus sons
Não há nada novo para aprender.
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