Quando menino, tinha o péssimo costume de querer as coisas "na marra", fazendo birra, esperneando, gritando, xingando. Quando conseguia o que queria, não o fazia sem me machucar, ou machucar outros. Talvez essa impulsividade tenha a ver com o que queria exteriorizar. Talvez quisesse exteriorizar de forma mais chocante. Na marra. E foi mesmo.
Agora, parece que um vento de tranquilidade se instalou. Nada de querelas sem resultado, menos discussões extremas, o policiamento eterno contra as estupidezes. Tentar algo por meio do diálogo, do entendimento, da persuasão, mostrou-se um instrumento mais eficaz na assimilação do meu novo eu, por outros e até por mim mesma. Mas uma hora só o convencimento não é mais suficiente.
E aí temos que apelar para outros expedientes, mais tensos, mais radicais. É a chamada "via dolorosa". Aquela pela qual tod@s um dia passamos ou passaremos, por lealdade aos nossos princípios, para exigir um respeito. Mas não o respeito que se é conquistado no curso do tempo, com o reconhecimento do nosso valor moral, das nossas capacidades técnicas ou intelectuais.
É antes de tudo a exigência de um respeito inato, aquele a que todos já temos direito sem precisar pedir. Ou no nosso caso mais específico, implorar. Queria não precisar espernear, mas a capacidade de persuasão já se me foi. E uma conquista que, em termos filosóficos, poderia ser feita pela franca exposição de motivos e conversa, acaba pendendo para as tenebrosas soluções jurídicas, impositivas e exaustivas. Um respeito inato que precisa ser conseguido na marra.
Vídeo da noite: Ana Moura - Desfado
Somos tod@s uma sucessão de controvérsias. Ana Moura canta muito bem essa característica do ser humano.
Ai, que desgraça essa sorte que me assiste
Ai, mas que sorte eu viver tão desgraçada
Na incerteza que nada mais certo existe
Além da grande certeza de não estar certa de nada